Terça-feira, 08 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2020
Carros importados da Europa e Ásia tendem a se tornar, cada vez mais, no Brasil, produtos para poucos. O repasse da desvalorização do real elevará os preços a ponto de modelos que hoje concorrem com similares nacionais não terem mais espaço no mercado. Isso só não aconteceu ainda porque a paralisação provocada pela pandemia manteve altos os estoques de veículos que entraram no país quando o dólar estava em torno de R$ 4. Já existe o receio de marcas com atuação mais tímida deixarem o país.
Por outro lado, quem puder pagar pelo luxo e avanço tecnológico que vêm do exterior contará com muitas opções. Os importadores tendem a caprichar nas novidades para que o avanço tecnológico e o uso de energias mais limpas, como carros elétricos e híbridos, sejam os principais diferenciais dos modelos vindos de outros continentes.
José Luiz Gandini, importador da Kia, decidiu praticamente fingir que o dólar não subiu para manter o Sportage, utilitário esportivo da marca coreana, no mesmo nível de preço do principal concorrente nacional, o Jeep Compass, da Fiat Chrysler, produzido em Pernambuco.
Nos últimos 12 meses, o preço do Sportage foi reajustado em 5,09% e custa hoje R$ 123,9 mil. Gandini não sabe, ainda, como agir em relação aos próximos lotes que chegarão da Coreia. Em princípio, modelos sem similar no Brasil tendem a ser mais procurados do que os que competem com os fabricados aqui.
A Kia tem 90 concessionárias, metade do que havia em 2011. Naquele ano foram vendidas 80 mil unidades da marca. No ano passado, foram 9 mil e expectativa de Gandini é encerrar 2020 com 5 mil.
A participação média dos importados nas vendas de carros no país é de 12%. Mas mais de 70% dos modelos estrangeiros vêm da Argentina e México, países com os quais o Brasil tem acordos de intercâmbio livre de Imposto de Importação. São trazidos pelas montadoras que produzem no país.
A participação das marcas de “nicho”, como são chamadas, não passa de 3%. Para compensar a alta do dólar e do euro os importadores têm pedido ao governo a redução da alíquota do Imposto de Importação de 35% para 20%. Mas a tarefa não é fácil em meio à crise.
João Henrique de Oliveira, diretor de operações da Volvo Car, assumiu a presidência da Abeifa, entidade que representa os importadores, em meados de março, na véspera do início do isolamento social. Coube-lhe usar as videoconferências para prosseguir com as tentativas de reunião com o governo, iniciadas na gestão anterior. Oliveira afirma estranhar que um governo com uma “agenda liberal” ignore os apelos do setor.
A Abeifa divulgou, na quinta-feira, a expectativa de queda de 30% nas vendas dos associados este ano na comparação com 2019. Entre as 15 marcas que fazem parte da associação, quatro delas – Caoa Chery, Land Rover, BMW e Suzuki – também produzem no Brasil. Contando as concessionárias, as 15 integrantes somam 18 mil empregos.
No primeiro semestre, o volume de vendas de importados caiu menos que o mercado total. “O consumidor aproveitou o estoque com preços baseados no dólar mais baixo”, afirma Oliveira. “Mas as dificuldades vão se agravar”, destaca. Segundo ele, a longo prazo algumas marcas podem desaparecer ou “enxugar” a oferta de modelos.
O mesmo não ocorre na chamada linha “premium”. Nesse segmento os estoques estão mais baixos. Além disso, é do exterior que vêm a maioria dos híbridos e elétricos. Marcas de luxo tendem a investir mais nas novidades em carros movidos a eletricidade.
Entre os lançamentos mantidos pela Mercedes-Benz está o EQC, primeiro utilitário esportivo elétrico da marca. O veículo começou a ser produzido na Alemanha há apenas dois meses. O preço para o Brasil ainda não foi divulgado.
A Mercedes tem fábrica de automóveis no Brasil, mas metade dos carros vem da Alemanha. Segundo Dirlei Dias, gerente de vendas, durante a pandemia, a marca aproximou-se do consumidor por meio de promoções e da criação de loja virtual no Instagram e Facebook. Dias não se queixa do movimento mesmo tendo reajustado os preços em 20% desde janeiro. “O pior já passou”, diz. “Aos poucos, voltamos a receber nos showrooms clientes que querem finalizar a compra que, muitas vezes, começou no ambiente virtual.” As informações são do jornal Valor Econômico.