Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2020
Juro baixo, imóvel barato, crédito farto e poupança em níveis recordes diante do medo do futuro causado pela pandemia criaram as condições perfeitas para a retomada mais forte do setor imobiliário no País.
Sinal mais evidente desse movimento aparece no crédito imobiliário para pessoas físicas, que aumentou 44% de janeiro a agosto, chegando a R$ 51,3 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Foi a maior alta desde 2015.
E os preços já começam a subir. Segundo levantamento do Índice FipeZap divulgado na semana passada, o valor de venda dos imóveis residenciais aumentou 0,53% em setembro, na comparação com agosto, a maior alta em seis anos. Mas a inadimplência também cresceu. Considerando apenas o financiamento com recursos do FGTS, o atraso nos pagamentos subiu 35% no primeiro semestre ante igual período do ano passado.
“Apesar da pandemia, os números de financiamento imobiliário são positivos. De janeiro a agosto verificamos um aumento do volume financiado de 40% em relação ao mesmo período de 2019, chegando a quase R$ 66 bilhões”, afirma a presidente da Abecip, Cristiane Portella.
Rafael Scodelario, consultor do setor imobiliário, explica que a taxa básica de juros, a Selic, está no menor patamar histórico, em 2%, mal repondo a inflação, o que permite condições favoráveis para a compra financiada da casa própria e atrai investidores que viram os rendimentos dos títulos públicos minguarem com a queda dos juros:
“Durante a pandemia, as pessoas viram o quão importante é ter uma casa. A procura por imóveis residenciais aumentou. Quem pode comprar um imóvel financiado agora deve aproveitar o momento porque os preços estão começando a subir por causa da procura.”
Ele ressalta que a queda na taxa média de juros dos bancos permite que caibam no bolso as parcelas de imóveis maiores e mais caros.
“Quem financiou R$ 200 mil no ano passado, hoje consegue financiar R$ 400 mil. Uma família com uma renda de R$ 3.500, por exemplo, hoje consegue um financiamento em torno de R$ 160 mil a R$ 170 mil reais. No passado, ela conseguiria no máximo R$ 110 mil ou R$ 115 mil. A diminuição dos juros aumentou bastante o poder de compra.”
Efeito home office
A advogada Gabriela Mello comprou um dos 198.924 imóveis financiados nos primeiros oito meses do ano. Com a pandemia, a empresa em que trabalha decidiu adotar o trabalho remoto de modo permanente, o que aumentou a necessidade de ter uma casa melhor:
“O apartamento alugado era uma quitinete, e eu não tinha a estrutura necessária para aderir ao trabalho remoto em período integral. Pesquisei as taxas de financiamento e liguei para a minha gerente do banco, que me explicou que o período era bom para a compra de imóvel. Parcelei em 360 meses, mas pretendo ir quitando com o 13º salário e a liberação do FGTS.”
O setor imobiliário já vinha melhorando antes da pandemia. Com a quarentena, foi derrubado como todas as atividades econômicas, mas já começa retomar, afirma Silvio Campos Neto, sócio e economista da Tendências Consultoria:
“É um setor muito sensível ao custo do financiamento e se beneficiou desse processo contínuo de queda de juros, que também torna o imóvel uma alternativa de reserva financeira.”
As perspectivas continuam positivas para o setor, inclusive pelo comportamento do mercado de trabalho. De modo geral, os que têm mais renda e emprego formal foram menos afetados pelos efeitos econômicos da pandemia, conseguindo manter rendimentos e capacidade de consumo.
Campos Neto afirma que essa parcela está em condições de aproveitar a situação mais favorável ao comprador. Ele alerta, porém, que a situação fiscal comprometida pode ser um freio para o crédito imobiliário.
A poupança está batendo recordes de captação, com o medo das famílias em relação ao futuro por causa da pandemia. Esse movimento também é favorável ao crédito imobiliário, já que a poupança é a principal fonte de recursos.
As taxas de juros mais baixas ajudaram o casal de empresários Sabrina Santos e William Silva a comprar um imóvel melhor sem ultrapassar o orçamento. Depois de muita pesquisa, compraram um apartamento mobiliado e bem localizado:
“Conseguimos financiar 82% do valor do imóvel em 360 meses. Os juros mais baixos permitiram que não só comprássemos um imóvel, mas que pudéssemos comprar o imóvel dos nossos sonhos.”