Segunda-feira, 07 de outubro de 2024
Por Mariana Pedrini Uebel | 4 de junho de 2020
É importante que os pais estejam atentos ao comportamento de seus filhos durante esse período.
Foto: ReproduçãoEsta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nesse período de desafios sem precedentes, horários desregrados, distanciamento social e incerteza geral, é provável que seu filho precise de apoio social e emocional extra. Muito tem se falado sobre o comportamento difícil das crianças durante a pandemia. Porém, acredito que aí ocorra uma inversão de valores, pois a maioria das crianças que apresenta os chamados “comportamentos difíceis” se dá por conta de condutas inadequadas dos
adultos responsáveis por elas e dos governantes ao fecharem suas escolas por um período tão prolongado e de forma abrupta.
De uma hora para a outra, sem muitas explicações, as crianças tiveram suas rotinas totalmente interrompidas, deixaram de visitar seus avós, de brincarem com seus amigos, de frequentarem os parques e as praias. Assim como os adultos, as crianças enfrentam o medo, a ansiedade, o mal-estar e o estresse que acompanham uma pandemia e podem estar sofrendo os impactos negativos do isolamento social prolongado. Uma vez que as crianças não se expressam verbalmente com tanta facilidade como os adultos, elas podem
expressar sua ansiedade de outras maneiras.
É importante que os pais estejam atentos ao comportamento de seus filhos durante esse período e a possíveis sinais de alerta, como dificuldade de concentração, irritabilidade, medo, inquietação, tédio, sensação de solidão e vazio, alterações no padrão do sono e alimentação.
Recente artigo publicado por um grupo de pediatras dos Estados Unidos relatou suas preocupações com as consequências do isolamento social prolongado para as crianças deste país, como a queda na taxa de imunização, já que muitas famílias têm medo de ir a qualquer lugar perto de clínicas ou hospitais, aumentando o espectro de infecções que estão ressurgindo, como o sarampo, a coqueluche, a meningite e a sepse bacteriana.
Também, o trauma emocional, a ansiedade e o transtorno de estresse pós-traumático pela ansiedade em relação ao vírus, pelo receio de serem possíveis vetores causadores da doença e pelo medo de perderem aqueles que amam. Outra fonte de preocupação dos pediatras americanos é a perda na escolaridade e as disparidades educacionais, uma vez que ter aulas on-line não está sendo fácil para aluno nenhum, e mais difícil ainda para as crianças mais vulneráveis.
Além de tudo isso, ocorre aumento do índice do abuso infantil, pois as crianças estão em casa com pais estressados, consumindo mais álcool e outras drogas, sem frequentar o ambiente protetor da escola e nem as consultas médicas de rotina. Preocupa também a ausência de tratamentos e terapias presenciais, já que os pais estão deixando de levar seus filhos para as consultas médicas e até mesmo para atendimentos de emergência.
Mais do que nunca é importante fornecer um ambiente de harmonia e equilíbrio para as crianças, conversando com tranquilidade e esclarecer os seus medos de forma clara e racional. É interessante manter hábitos de vida saudáveis com uma rotina diária estruturada, envolvendo as crianças nas tarefas domésticas na medida do possível, designando algumas responsabilidades da casa para elas.
Além disso, movimentar o corpo é essencial, com a prática de jogos e de exercícios físicos. Por fim, o sono reparador, a alimentação saudável e a espiritualidade também são fundamentais na superação dos momentos de crise para toda a família.
Dra. Mariana Pedrini Uebel – CRM 26829
@marianapedriniuebel
Psiquiatra da Infância, Adolescência e Adultos
PhD em Psiquiatria pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Fellowship em Psiquiatria pela Columbia University | Nova York
Pós-Doutorado em Psiquiatria pela UNIFESP
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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