Segunda-feira, 16 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2025
O casarão de dois andares onde vive, desde abril, a embaixadora do Brasil na Suécia parece ter saído de um livro de história ou de arquitetura. Localizado na ilha de Djurgarden, em um bairro nobre e turístico, ele foi construído no século XIX e é chamado de Villa Mullberget. O local, a 25 minutos da sede da embaixada brasileira, tem um jardim amplo e até o selo de valor histórico concedido pelo Museu da Cidade de Estocolmo. É também uma das residências oficiais mais caras mantidas pelo governo brasileiro no exterior.
Por ano, o Itamaraty vai pagar US$ 250 mil (R$ 1,4 milhão) só de aluguel pela propriedade, que virou a residência oficial da embaixadora em abril deste ano. Por mês, o aluguel é de aproximadamente R$ 117 mil no câmbio atual. O custo total com a habitação sobe para R$ 2,47 milhões anuais com a remuneração de três funcionários que ajudam na manutenção do imóvel, além de serviços de segurança. Embora a casa na Suécia esteja entre as dez mais caras mantidas pelo Itamaraty, o país ocupa o 53º lugar entre os destinos das exportações brasileiras, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Casos como o de Estocolmo ilustram a magnitude das despesas do Ministério das Relações Exteriores com residências oficiais que abrigam os chefes de postos diplomáticos ao redor do mundo. Levantamento do jornal O Globo a partir de dados oficiais obtidos via Lei de Acesso à Informação aponta gasto anual de R$ 174,8 milhões com imóveis e pagamento de funcionários de residências oficiais em 188 postos diplomáticos – em 60 deles, as propriedades foram compradas pelo governo brasileiro.
Mais da metade do valor (R$ 87,8 milhões) representa pagamentos de aluguéis e taxas de condomínio. Além disso, há custos com a contratação de funcionários locais como cozinheiros, mordomos ou empregados domésticos, além de serviços terceirizados, como limpeza e vigilância. O cálculo não inclui despesas com auxílio moradia aos diplomatas e demais servidores do Itamaraty, nem com os prédios das embaixadas e consulados.
O Itamaraty diz que a contratação de imóveis para abrigar as residências oficiais segue as normas do governo e que as propriedades são escolhidas “segundo critérios de necessidade orientados pela função do imóvel, como localização, área e padrão de representação”. É esperado que residências oficiais possam eventualmente abrigar eventos. “Os parâmetros são estabelecidos pela Secretaria de Estado das Relações Exteriores, após estudos que consideram dados dos relatórios especializados da consultoria Mercer sobre custos imobiliários no mundo, aspectos logísticos, peculiaridades locais e limites orçamentários”, diz a pasta, em nota.
Desde 2023, o Brasil abriu ao menos oito novos postos diplomáticos. Segundo o governo brasileiro, o uso da residência oficial vai além da função domiciliar, pois os imóveis funcionam como uma extensão da embaixada. Portanto, são levados em conta na hora da escolha a capacidade de abrigar eventos de trabalho, como reuniões, almoços, recepções e a festa nacional, além de hospedar delegações ministeriais ou presidenciais em visita ao país.
Sobre a moradia em Estocolmo, o Itamaraty justifica a escolha pelo fato de o imóvel encontrar-se em “área urbana integrada por residências, outras embaixadas (Espanha, Itália, Turquia, Reino Unido e EUA) e museus, portanto dentro da cidade de Estocolmo”.
O maior custo de aluguel é o da residência oficial do chefe da Missão Permanente do Brasil junto à ONU, em Genebra. O imóvel está alugado pelo Brasil desde 1972, ao custo anual de 317 mil francos suíços (R$ 2,16 milhões). O local fica a três quilômetros de distância da sede da entidade. O Itamaraty também paga seis funcionários permanentes, ao custo aproximado de R$ 3 milhões ao ano, e mais R$ 87 mil anuais com serviços de vigilância. Ao todo, a despesa anual chega aos R$ 5,2 milhões.
A lista das residências oficiais que consomem mais recursos inclui outros postos diplomáticos de alta relevância para o Brasil, como Buenos Aires, Washington, Nova York, Haia e Paris, mas também localidades de menor importância, como Praga, Viena e Cingapura.
A residência oficial do embaixador em Praga, por exemplo, é a 12ª em despesas anuais, apesar de a República Tcheca ocupar a posição de número 124 entre os principais destinos de exportações do Brasil. O aluguel custa R$ 1,26 milhão por ano (R$ 105 mil por mês), e ainda há R$ 827 mil em gastos com quatro funcionários locais. O imóvel é um palacete de dois andares, a seis quilômetros da embaixada brasileira na capital tcheca.
No caso de Viena, o aluguel da residência, a 350 metros da embaixada, é de US$ 94,3 mil por ano (R$ 530 mil, o equivalente a R$ 44 mil mensais) e mais US$ 43 mil de condomínio, com a despesa anual chegando a R$ 1,7 milhão. É a 16ª maior entre as residências oficiais de diplomatas. A Áustria, por sua vez, ocupa a 108ª posição no ranking de importadores de produtos e serviços brasileiros.
Entre os imóveis alugados, está também uma cobertura em Budapeste. O apartamento na capital da Hungria está localizado no bairro financeiro e cultural de Lipótváros, a 750 metros da embaixada, e custa US$ 14 mil por mês de aluguel (R$ 78,8 mil). O edifício está no mesmo quarteirão do famoso museu de cera Madame Tussauds e fica a dois quarteirões do Rio Danúbio. A Hungria é apenas o 93º destino das exportações brasileiras. As informações são do jornal O Globo.