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Variedades Entenda por que Ennio Morricone foi um dos mais cultuados compositores do cinema

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Tanto gênio quanto operário, italiano fez trilhas que deveriam ter créditos de atuação. (Foto: Reprodução)

Ennio Morricone, morto nesta semana, tinha um tanto de gênio e outro tanto de operário. O talento acima da média era evidenciado não apenas nas trilhas clássicas que compôs para filmes de diferentes diretores e gêneros, mas também no método: o italiano não usava o piano ou qualquer instrumento no ofício da criação orquestral; ele ouvia e criava a música na cabeça, e, com papel e caneta nas mãos, escrevia todas as partes que seriam tocadas naquela reunião de sons perfeitamente adequada para cada cena.

O lado trabalhador era ainda mais fácil de notar. Basta olhar seu currículo, que passa de 500 filmes. Chegou a assinar mais de 20 trilhas num único ano.

Morricone ajudou a definir o ofício de compositor de trilhas à sua maneira, com métodos únicos. Era capaz de escrever canções apenas a partir da leitura do roteiro, sem a necessidade de ver as cenas. Era amado pelos diretores por isso, e também por sua versatilidade, capaz de transitar por tarantelas, sons psicodélicos, baladas românticas.

Resumia a carga dramática necessária em uma cena como poucos, voltava com facilidade aos temas do século XVIII e dialogava com a efervescência sonora do século XX. Fez história no faroeste italiano, mas deixou sua marca também em comédias, thrillers e dramas históricos. Sabia, curiosamente, musicar o silêncio, quando usar mais ou menos música para não sobrecarregar o espectador.

Ainda assim, suas trilhas deveriam ganhar créditos de atuação.

“Nos filmes que ajudaram a estabelecer sua reputação nos anos 1960, com a série de “faroestes spaghetti” que compôs para Sergio Leone, a música de Morricone era tudo menos um pano de fundo”, resumiu Jon Pareles, crítico de música do “The New York Times”. “Suas músicas estão tão vivas no primeiro plano de suas obras quanto o rosto de qualquer ator.”

Leone e Morricone, curiosamente, se conheceram ainda na infância. Com apenas dois meses de diferença na idade (Leone nasceu em janeiro de 1929; Morricone em novembro de 1928), os dois chegaram a estudar juntos enquanto cresciam na Roma dos anos 1930. Depois, perderam o contato, e só foram se reencontrar quando Morricone despontava como compositor ao lado diretor Luciano Salce, para quem criou as trilhas de “Il federale” (1961) e “La voglia matta” (1962).

É difícil desassociar a obra de um e do outro. Na década de 1960, a dupla reinventou o gênero de faroeste, e Morricone assim fez com elementos sonoros curiosos como o “tique” de um relógio de bolso, o vento soprando, moscas zumbindo, uma harpa judaica, assobios assombrosos, chicotes rachados, e, claro, aquele som tão bizarro quanto marcante, reproduzível como “ah-ee-ah-ee-ah” tocado por um instrumento inusitado, em formato de batata, a ocarina. Truques ouvidos na trilogia “Por um punhado de dólares” (1964), “Por uns dólares a mais” (1965) e “Três homens em conflito” (1966) e também em outros clássicos, como “Era uma vez no Oeste” (1968).

Na mesma época, Morricone, que se considerava um fã da música brasileira, trabalhou com um de seus maiores ícones, Chico Buarque. O italiano escreveu os arranjos do disco “Per un pugno di samba”, lançado em 1970, e cantado por Chico em italiano.

“Foi uma experiência sensacional. Gosto muito daquele trabalho. Na época, ele foi considerado um disco de vanguarda, muito original”, relembrou Morricone, anos depois.

O trabalho de Morricone esteve presente nas obras de diretores de diferentes talentos, como Bernardo Bertolucci, Pier Paolo Pasolini, Terrence Malick, Roland Joffé, Brian De Palma, Barry Levinson, Mike Nichols, John Carpenter, Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino.

“Eu trabalho sobretudo com diretores de cinema que já conheço e por quem tenho admiração”, contou em entrevista exclusiva ao O Globo, em 2007, quando veio ao Brasil e se apresentou no Teatro Municipal do Rio ao lado da Orquestra Petrobras Sinfônica.

Suas trilhas orquestrais podem ser ouvidas em clássicos como “A gaiola das loucas” (1978), “O enigma de outro mundo” (1982), “Busca frenética” (1988), “Cinema Paradiso” (1988), “Na linha do fogo” (1993) e “Os oito odiados” (2015). Com o último, venceu o Oscar de trilha original pela primeira e única vez.

Morricone, aliás, nunca aprendeu a falar inglês, nunca saiu de Roma para fazer a trilha de alguma produção, e por anos se recusou a viajar de avião. Eventualmente, acabou cedendo e rodou o mundo conduzindo orquestras e por vezes tocando suas próprias composições. Por mais que seu trabalho seja diretamente associado a Hollywood, ele não visitou os Estados Unidos até 2007, quando, aos 78 anos, fez uma turnê de um mês e participou de mostras com seus filmes. Foi nessa ocasião, também, que recebeu em Los Angeles o Oscar honorário pelo conjunto de sua obra, das mãos do astro de faroestes Clint Eastwood.

 

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