Sexta-feira, 07 de março de 2025
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2024
Todas as atenções do mercado financeiro brasileiro nesta terça-feira estavam voltadas para a ata da última reunião do Copom — o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), que na última semana decidiu interromper a queda de juros no Brasil, após sete cortes seguidos — e para as falas de Gabriel Galípolo, atual diretor de Política Monetária do BC.
O dólar operava em ligeira alta, após ter fechado, na véspera, abaixo de R$ 5,40. Mas, então, uma fala de uma diretora do Federal Reserve (Fed, o BC americano), mudou o humor dos analistas e o dólar acabou fechando em R$ 5,45.
Michelle Bowman, que no início de maio havia afirmado não ver espaço para corte de juros nos EUA este ano, agora afirmou, em conversa com jornalistas após um evento em Londres, não acreditar numa redução das taxas nos “anos futuros”.
Perguntada se continuava vendo um cenário sem redução no custo do crédito este ano, Bowman respondeu que essa era a sua opinião. “Não incluí mais cortes de taxas na minha projeção econômica para a maior parte deste ano”, afirmou, para em seguida completar que havia mudado “essa visão para cortes em anos futuros neste momento, com a incerteza da perspectiva econômica”.
Pouco depois das falas de Bowman, o dólar passou a subir com mais força, até chegar a máxima R$ 5,4509.
Juros mais altos nos EUA atraem investimentos do mundo inteiro para lá, reduzindo o fluxo de dólares para países emergentes, como o Brasil, e pressionando a cotação do dólar frente ao real. O cenário externo adverso foi um dos fatores citados pelo Banco Central brasileiro na ata da sua última reunião do Copom, divulgada nessa terça-feira.
Até o início deste ano, a maioria dos analistas previa que o Fed iria começar a reduzir sua taxa básica de juros em março deste ano. Agora, o cenário básico é de que a taxa será mantida no atual patamar – entre 5,25% e 5,5% ao ano — pelo menos até o fim de 2024. E, agora, a diretora Bowman indicou que este prazo pode ser ainda mais longo.
Manutenção da taxa
Por aqui, na ata do Copom, o BC afirmou que manterá os juros em 10,5% ao ano pelo “tempo suficiente” para ancorar as expectativas de inflação:
“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação, como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
O BC também sinalizou que a taxa de juros reais (ou seja, o juro nominal descontado a inflação) considerada “neutra”, ou seja, que não acelera nem contém a alta de preços, mudou diante do novo cenário econômico. Essa taxa agora passou de 4,5% ao ano para 4,75% ao ano.
Entre as mudanças no cenário apontadas pelo BC brasileiro estão a atividade econômica mais forte no Brasil e o cenário internacional adverso.
“O ambiente externo mostra-se mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países”, diz o comunicado. Por isso, diz o BC, “a incerteza global sugere maior cautela na condução da política monetária doméstica.”
Mau-humor no mercado
Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset Management, explica que o dólar e os juros futuros reagiram positivamente à ata do Copom divulgada mais cedo, que foi bem-recebida pelo mercado, mas os ativos começaram a ser contaminados pela piora do humor lá fora.
“Outros emergentes também estão sofrendo com o dólar mais forte. Bowman é notadamente uma das diretoras da ala mais hawkish (restritiva em relação ao controle da inflação) do Federal Reserve, e esse comentário no sentido de ser a favor de juros mais altos ou de não reduzir os juros acaba sendo mais uma força na mesma direção (de valorização do dólar)”.
Ele também cita que, mais cedo, os dados de confiança do consumidor nos Estados Unidos recuaram e a inflação no Canadá veio muito acima do esperado, contribuindo para contaminar o humor do mercado.