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Por Redação O Sul | 29 de junho de 2017
A Copa do Mundo nunca havia visto nada igual. Nas oitavas de final de 2014, entre Alemanha e Argélia, Manuel Neuer cortou 20 ataques argelinos com os pés ou a cabeça, como se fosse zagueiro. Na história do torneio, foi o jogo em que um goleiro mais tocou na bola fora da área.
Pelo posicionamento, maneira de treinar, estilo e, claro, capacidade de fazer defesas com as mãos, os goleiros alemães criaram escola. Um dos seus nomes mais conhecidos, Marc-André ter Stegen, será titular da seleção nesta quinta (29), às 15 horas, contra o México, pela semifinal da Copa das Confederações.
Stegen é sonho de consumo de Guardiola no Manchester City (ING) por representar, no gol, o estilo de jogo preferido pelo técnico: a capacidade de jogar com os pés tão bem quanto com as mãos.
“É difícil ver goleiros que saibam sair da área, ter o domínio da bola, da situação e atuar tão bem com os pés quanto ele”, constata o atacante brasileiro Raffael, ex-companheiro de Stegen no Borussia Monchengladbach.
O goleiro virou titular, pois Neuer foi poupado do torneio na Rússia.
“O treinamento é diferente. Existe uma escola alemã de goleiros porque eles têm em quem se inspirar. O jogo é com os pés, mas há o posicionamento, uma forma de atuar”, explica o ex-atacante Paulo Sergio. Ele foi campeão da Liga dos Campeões da Europa com o Bayern de Munique. Hoje é embaixador internacional da Bundesliga, a primeira divisão do país.
Neuer se tornou a imagem do goleiro-líbero. Aquele que joga adiantado para cortar ataques adversários e se antecipar ao atacante. Como fez 20 vezes diante da Argélia. Para isso, o posicionamento precisa ser praticado à exaustão nos treinos. Um goleiro na Bundesliga pode correr até oito quilômetros por partida. A média, em outras ligas europeias, é quatro.
Os goleiros alemães começaram a inovar na década de 50. Bert Trautmann, prisioneiro de guerra do exército inglês durante a Segunda Guerra Mundial, superou a desconfiança da própria torcida do Manchester City, onde jogou por 15 anos. Foi o primeiro a armar contra-ataques com longos lançamentos com as mãos. Até então, a norma era sempre dar um bicão para frente.
O estilo de defesas no mano a mano com o rival virou marca. Não foi criado pelos alemães, mas incorporado por eles. O dinamarquês Peter Schmeichel adotou a maneira de jogar do goleiro de handebol: o pulo com pernas e braços abertos, para aumentar o raio de alcance.
“Os olheiros alemães sabem descobrir garotos com aptidão física. Desde cedo os goleiros incorporam as características de jogador de linha”, afirma Harald Schumacher, titular da seleção nas finais das Copas de 1982 e 1986.
“Há quantos anos a Alemanha tem goleiros entre os melhores do mundo? Muito tempo”, observa Paulo Sergio.
Desde 1954, quando Turek parou o ataque húngaro na decisão do Mundial. Sepp Maier é considerado um dos maiores em todos os tempos e foi símbolo do título da Copa do Mundo de 1974, Schumacher, duas vezes vice-campeão mundial; Illgner, campeão em 1990; Oliver Kahn, o único da posição a ser eleito melhor de uma Copa, em 2002. Neuer e Ter Stegen seguem a tradição.
“Temos muitos garotos que querem ser goleiros porque olham para o passado e veem a tradição que temos”, completa Schumacher.
Há também a maneira de treinar, moldada por cursos oferecidos pela Federação Alemã. Existe movimento para que a licença fornecida pela entidade seja obrigatória na Bundesliga.
“É uma escola de goleiros das melhores. A Alemanha estará bem servida na posição por muito tempo”, finaliza Raffael.
Estilo de jogo
Salto
Goleiros alemães, como Stegen, abraçaram a técnica do dinamarquês Peter Schmeichel, de “enfrentar” o atacante saltando com braços e pernas esticados para aumentar a chance de defesa.
Saída de bola
Treinamentos dos clubes alemães valorizam que goleiros consigam ser mais um jogador de linha quando necessário. Pep Guardiola, o maior expoente desse pensamento, treinou Manuel Neuer e é fã de Ter Stegen.
Posicionamento
Manuel Neuer, de azul, do Bayern de Munique, é o grande representante da escola goleiro-líbero, saindo para cortar com os pés ou com a cabeça lançamentos adversários. (Folhapress)