Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 15 de março de 2022
Apesar de manifestações isoladas em alguns pontos do País, uma greve generalizada de caminhoneiros como vista em 2018 é praticamente descartada pela categoria. Líderes do setor dizem que os motoristas estão isolados, sem apoio de outros segmentos da economia, e que há gatilhos agora para compensar as perdas com o reajuste do combustível, que não existiam há quatro anos.
Um deles é o que prevê o reajuste da tabela mínima do frete rodoviário pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a cada vez que o preço médio do diesel ultrapassa 10% nas bombas de combustível. “Quem vai pagar é o consumidor final, a cada produto que comprar no supermercado, porque o preço dos fretes vai subir”, diz José Roberto Stringasci, presidente da Associação Nacional de Transporte do Brasil (ANTB).
Segundo ele, o contexto atual é muito diferente de 2018. “O agronegócio nos apoiou porque tinha interesse em perdão de dívidas, em ter apoio do novo governo. As transportadoras também tinham interesse político. Então, todos financiaram a greve. Hoje, o autônomo está sozinho e não tem ninguém que consiga uni-los”, reclama.
Stringasci, que é motorista de São Paulo, diz que muitos deixarão de ser caminhoneiros ou virarão empregados de transportadoras. De fato, em grupos de WhatsApp, há algumas manifestações de motoristas dizendo que largarão a profissão. Ninguém fala em greve.
Marcos Souza, de Ourinhos (MT), conhecido como Pitbull, diz que vai largar a carreta quando voltar para sua cidade, depois de 30 dias carregando soja para o Nordeste. “Fechei um frete e tive dois reajustes de combustível durante a viagem, perdi R$ 300. Vou vender essa porcaria”, afirma sobre o caminhão.
“O governo quer e tem apoio das grandes empresas hoje. O agronegócio também está ótimo neste momento, ninguém está ligando para nós ou para o consumidor que irá pagar tudo mais caro”, completa Stringasci, comparando com 2018.
A ANTB defende que a única maneira de solucionar a questão dos aumentos
recorrentes do diesel é o fim da Paridade do Preço de Importação (PPI), da Petrobras. “Faremos uma carreata em maio para explicar a população como isso é prejudicial a nós brasileiros, quem sabe as pessoas acordam e percebem que essa política é que causa a inflação”.
Esse mesmo discurso foi feito pelo Wallace Landim, o Chorão, um dos líderes da greve de 2018 no dia do anuncio do reajuste da Petrobras. “É preciso que a população brigue para não ter mais aumentos. Não é um problema dos caminhoneiros, é um problema dos brasileiros”.
Carlos Alberto Litti Dahmer, da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Transportes e Logística (CNTTL), também é da opinião de que as medidas adotadas pelo governo desde o reajuste ajudam, mas não resolvem o problema.
“A nosso ver, a solução passa pela Petrobras. É inadmissível que o governo trate a Petrobras como estão tratando. Somos autossuficientes e mandamos o nosso petróleo para fora para vir de volta pela paridade de preço internacional, com a única finalidade de dar lucro ao investidor na bolsa de valores”, afirma. “A solução passa pela mudança da política de preços, que é só uma medida administrativa. O presidente Joaquim Luna e Silva poderia abrir um pouco mão do lucro exorbitante que tem no diesel e também um pouco de seu salário”.
Ao contrário de ocasiões passadas, no entanto, a CNTTL não está à frente das
manifestações porque a repressão adotada pelo governo federal acabou assustando a categoria. “Ao colocar a Polícia Federal em pontos de bloqueio ou ameaçando com multas milionárias, o governo coibiu de forma muito forte a manifestação”, diz o caminhoneiro.
Dahmer ressalta que, na última vez que o segmento se movimentou, no início de novembro, a CNTTL recebeu, sozinha, treze interditos proibitórios – que ameaçam com multa em caso de paralisação – cada um no valor de R$ 100 mil.
Desta vez, portanto, a ideia das entidades é trazer a população para protestar junto. “O tema é amplo. Não é algo que afeta apenas a condição dos caminhoneiros, mas todos os cidadãos. Seja quem está pagando R$ 8 na gasolina ou mais de R$ 100 no botijão de gás”, diz.