Terça-feira, 22 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 20 de julho de 2025
O retorno de Donald Trump para a Casa Branca chacoalhou o mundo. Nesse domingo (20), quando alcançou a marca de seis meses do seu segundo mandato, o republicano caminha para deixar como legado – ao menos por ora – uma economia global que deve crescer menos nos próximos anos e uma conjuntura muito mais arriscada.
“É difícil ver os primeiros seis meses de um governo tão ruim como esse na histórica norte-americana”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Se formos comparar com os presidentes das últimas décadas, Trump entra na história como o pior de todos. Ele não tomou nenhuma medida adequada que possa ser positiva para a economia dos EUA e mundial.”
Em abril, o Fundo Monetário Internacional reduziu a expectativa de crescimento da economia mundial de 3,3% para 2,8%. À época, o FMI alertou para o fato de a economia global ser caracterizada por um elevado grau de integração econômica e financeira e indicou que o tarifaço de Trump é uma “importante fonte de turbulência”.
Com as tarifas de importação, por exemplo, Trump detonou uma guerra comercial agressiva e colocou o mundo num cenário de grande incerteza – o que, no limite, inibe os investimentos das empresas e o consumo das famílias. “É uma reviravolta completa. Ele, na verdade, volta 60 anos na política comercial”, diz Gesner Oliveira, sócio executivo da consultoria GO Associados.
Nesses seis meses, Trump tem adotado uma política comercial de “morde e assopra”. No pior momento, os analistas ficaram receosos com a possibilidade de um impacto maior na atividade global. Hoje, a leitura que se faz é que as tarifas vão prevalecer, mas não serão tão agressivas quanto se imaginava no início do segundo governo do republicano.
Em 2 de abril, no que chamou de “Dia da Libertação”, Trump anunciou suas tarifas recíprocas para 185 países. Poucos dias depois, teve de adiar a entrada em vigor das tarifas por 90 dias, porque o mercado financeiro entrou num modo de pânico. As empresas chegaram a perder trilhões em valor de mercado e os investidores se desfizeram de títulos dos EUA – num claro sinal de que a economia americana havia deixado de ser um porto seguro.
Com o fim do prazo, Trump voltou a anunciar as suas tarifas para outras economias – o Brasil recebeu a mais alta, de 50%. A expectativa por alguma negociação entre os países e a distância de um cenário mais radical ajudaram as bolsas dos EUA a apresentarem alguma recuperação nas últimas semanas.
De acordo com um levantamento da Elos Ayta, entre o início do mandato de Trump até 16 de julho, o índice Dow Jones avançou 1,76%, o Nasdaq subiu 5,61% e o S&P 500 registrou alta de 4,45%.
“Todas as idas e vindas do Trump em relação às tarifas dão mais ânimo para os investidores”, afirma Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital. “Cada vez que o Trump volta um pouco atrás na questão das tarifas, vemos um ânimo mais elevado por parte dos investidores. Eu caracterizaria esse ambiente como de alta volatilidade.”
Na campanha presidencial do ano passado, Trump prometera retomar pontos polêmicos do seu programa econômico, como as tarifas de importação e medidas mais duras para imigrantes. São políticas que podem piorar o quadro da inflação e reduzir o crescimento econômico.
No primeiro trimestre, a antecipação de importação levou o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos a recuar, e a inflação já dá alguns sinais de que as empresas começam – ainda que de forma tímida – a repassar o impacto das tarifas para os consumidores.
“Boa parte do mercado, inclusive, esperava ver um impacto mais rápido das tarifas. Ou seja, um repasse do aumento das tarifas para o consumidor”, afirma Rostelato. “Isso começou a ocorrer nos dados de junho. É um processo ainda inicial.”
Em junho, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,3% ante maio. Na comparação anual, o avanço foi de 2,7% em junho. Os analistas consultados pelo Projeções Broadcast esperavam altas de 0,3% e 2,6%.
Com um cenário repleto de incertezas, a missão do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) de trazer a inflação para a meta de 2% também ficou mais árdua. E há ainda um outro ingrediente de dificuldade: os ataques de Trump ao presidente do BC norte-americano, Jerome Powell – o mandato dele só termina em janeiro de 2028.
Publicamente, o presidente dos EUA tem defendido uma queda das taxas de juros no país. Mas o republicano negou a possibilidade de demitir Powell, cujo mandato se encerra em maio do próximo ano.
“Uma das grandes vantagens do mercado americano é que há uma noção de que as regras são muito respeitadas”, afirma Gesner. “Pela primeira vez desde que os Estados Unidos se tornaram uma potência, isso está sendo questionado, o que acaba aparecendo nas (altas das) taxas de juros dos títulos do Tesouro americano e numa certa desvalorização da moeda norte-americana. Claramente, você tem uma dúvida em relação à segurança jurídica nos EUA.” (As informações são do portal Estadão)