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Por Redação O Sul | 8 de setembro de 2018
Adélio Bispo de Oliveira, o homem que esfaqueou o candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL), tinha hábitos que ninguém compreendia quando viajava à sua cidade natal, Montes Claros, no Norte de Minas, para visitar os parentes. Ele passava dias em um quarto escuro com paredes de tijolo aparente, cujas janelas e porta permaneciam fechadas. Tudo isso sob o forte calor de uma das regiões mais quentes do Estado.
“Não posso falar que ele era maluco. Mas, pelas atitudes que tomava, não era normal, não. Ficava o dia todo trancado. Vai saber o que ele ficava pensando”, conta o pedreiro Eraldo Fábio Rodrigues Oliveira, de 45 anos, casado com uma sobrinha de Adélio.
Na manhã de sexta-feira (7), Eraldo era o único na casa da família, localizada no bairro Maracanã, região de classe baixa de Montes Claros. Com medo de represálias por parte de seguidores de Bolsonaro, os parentes deixaram o imóvel e foram para a zona rural.
Adélio perdeu a mãe na infância e o pai no início da juventude. Ele foi criado pelos quatro irmãos, sendo três mulheres e um homem. Na tarde de sexta, Eraldo assistia um programa policial na TV quando reconheceu o nome de Adélio como o autor de um atentado contra Bolsonaro.
“Amor, acho que é seu tio”, disse à esposa, Jussara Ramos, que passa por um difícil tratamento de câncer e começou a chorar bastante quando soube da notícia.
Medo de represálias
Entre os períodos de trabalho no Sul do Brasil, Adélio passou temporadas em Montes Claros. Prestou serviços de camareiro em um hotel da cidade e se envolveu com atividades da Igreja do Evangelho Quadrangular. Adorava assistir a TV, em especial telejornais, pois “era pessoa muito interessada”, segundo a cunhada, Maria Inês.
Ela reclamou da aparência de Adélio na TV em todos os jornais do dia anterior, que ela diz não ser dele. A família nunca teve conhecimento de que ele exercesse qualquer tipo de atividade política. Nem voto ele pedia, segundo Eraldo.
A sobrinha Jussara se martirizava por não ter buscado ajuda para Adélio, ao perceber o comportado que se agravava.
“Por que a gente não pediu ajuda? Por que nesses primeiros sinais a gente não se doou mais para ele, também? Ele falava que sempre estava bem, que não precisava de ajuda. Ele não dava nem espaço.”
Um dos sobrinhos do agressor, de 11 anos, faz atividades extraclasse na unidade do Exército de Montes Claros, como natação, judô e educação física. Na sexta, ia desfilar na parada de Sete de Setembro na avenida principal da cidade, mas a mãe achou melhor ele não ir. Segundo Eraldo, ela ficou com medo de alguém fazer alguma retaliação com a criança.
“A gente fica com medo, não sabe como é a cabeça dos outros, né, moço?”, questionou Eraldo.
A família nunca teve notícia de que ele exercesse qualquer atividade política, embora na juventude tenha um dia afirmado que gostaria de ser deputado, “para ajudar gente em um monte de cidade”. Os parentes receberam com surpresa a informação de que de 2007 a 2014 ele foi filiado ao PSOL em Uberaba (MG).