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Por Redação O Sul | 19 de março de 2020
Em meio à pandemia de coronavírus, as recomendações de lavar as mãos com água e sabão para reduzir a chance de contágio são amplamente repetidas no mundo todo. Mas na Venezuela, onde muitos hospitais passam a maior parte do tempo sem abastecimento de água e sem suprimentos tão básicos quanto sabão, isso nem sempre é uma opção.
Médicos venezuelanos estão alarmados com a chegada do vírus ao país, que há anos passa por uma forte crise política e econômica que deixou o sistema de saúde em estado crítico. Desde sexta-feira (13), foram registrados 33 casos da doença, sem mortes. O ditador Nicolás Maduro suspendeu voos internacionais e ordenou uma quarentena geral a partir de terça (17).
Segundo especialistas, a população está especialmente vulnerável porque está desnutrida e, com isso, mais suscetível a contrair a doença e a manifestá-la na forma grave.
Eles também lembram que o êxodo que espalhou mais de 5 milhões de venezuelanos pelo mundo, especialmente adultos jovens, deixou no país especialmente crianças e idosos, e esse último grupo é o de maior risco.
Citam, ainda, a falta de leitos de UTI e de energia para manter os equipamentos de terapia intensiva funcionando. Com esse quadro, alguns temem que a porcentagem de mortes em relação ao total de afetados possa ser maior do que em outros países.
Outro problema, afirmam, é que não confiam nas estatísticas informadas por Maduro, que vem sendo criticado por organizações nacionais e internacionais pela falta de transparência na divulgação de dados públicos.
Segundo a Federação Médica Venezuelana (FMV), somente 73 leitos de terapia intensiva estão funcionando hoje na Venezuela — sendo apenas 19 deles no setor público. A entidade afirma que seriam necessários ao menos 3.000 leitos para enfrentar a pandemia de coronavírus.
“Muitos pacientes precisam de ventilação mecânica, mas sem esses leitos não temos como oxigená-los”, diz o presidente da FMV, Douglas León Natera, acrescentando que os centros de saúde venezuelanos têm apenas 3% a 5% dos insumos necessários para funcionar.
“Os hospitais estão completamente desabastecidos. Faltam remédios, equipamentos médicos, aparelhos de radiologia convencional. Antes já era difícil. Agora, com a chegada desse vírus mortal sem que a gente possa adotar medidas preventivas, vai ser pior”, afirma.
Segundo Natera, alguns hospitais ficam quatro dias da semana sem água, e há regiões do país sem luz há dez semanas. “O fornecimento é intermitente. Não temos água e sabão em um momento em que o principal elemento para eliminar o vírus é água e sabão. Imagine”, afirma, listando também uma série de hospitais considerados de referência que não têm nem produtos para esterilizar equipamentos.
A falta de máscaras protetoras é outro problema apontado por ele. “Nós, médicos e enfermeiros, acabamos usando uma bem simples, um paninho, não é aquela de máxima segurança indicada para profissionais de saúde.”
De acordo com uma pesquisa da ONG Médicos pela Saúde, 53% dos hospitais venezuelanos não tinham máscaras no início de março. A mesma fonte afirma que 90% careciam de um protocolo para o coronavírus.