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Colunistas Pão e circo para o povo

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(Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A frase “pão e circo para o povo” foi dita há muito tempo pelo imperador romano Vespasiano, quando da construção do Grande Coliseu. Essa tem sido a formula mágica milenar de manter o povão na ignorância. Não temos coliseus com gladiadores ou com leões destroçando escravos para delírio da galera. Mas, estamos totalmente hipnotizados por milhares de canais de TV com as maiores bizarrices, esportes, shows, pegadinhas, além, é claro, do circo dos escândalos políticos, da corrupção e da criminosa impunidade.

Mal temos tempo para tentar elaborar qualquer pensamento baseado na indiscutível linha do tempo. Além de escravos da meia verdade, uma prática endêmica na mídia numa forma desprezível praticada por aqueles que abusam da confiança depositada neles. Daí que a manchete principal de hoje certamente é a pesquisa do Datafolha: 58% das 2.768 pessoas em 171 municípios em todo o País “acreditam que o ex-presidente Lula foi beneficiado por empreiteiras”.

A pergunta honesta seria se o povo conhece a história das empreiteiras no Brasil. Ou talvez se a maioria sabe o que vem a ser uma empreiteira. Para que instruir o povo para que ele forme um juízo de valor livre, responsável e maduro? Não tem que ser ao sabor dos humores construídos pelas meias verdades. Para desespero da oposição, apesar de tudo, Lula é citado por 37% como o melhor presidente que o País já teve, seguido de FHC com 15%, Getúlio Vargas, 6% e Jk, 5%.

Qual será o índice de conhecimento sobre a história do Brasil entre os entrevistados? Saber para quê? O importante é o Circo! Para aqueles que não aceitam a posição de patuleia romana sugiro entre outros a leitura de “Estranhas catedrais – As empreiteiras brasileiras e a ditadura civil-militar” (Editora da UFF, 444 pág., 2014), resultado da pesquisa para a tese de doutorado “A Ditadura dos Empreiteiros”, concluída em 2012 pelo professor Pedro Henrique Pedreira Campos, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Para quem acha que a corrupção entre empreiteiras e governo começou ontem ou anteontem, vale olhar o decreto presidencial 64.345, de 10 de abril de 1969. O então presidente Artur da Costa e Silva blindou as portas para empresas estrangeiras em obras de infraestrutura no Brasil. A partir desse decreto de 1969 criou-se uma reserva de mercado para empreiteiras nacionais. Prosperaram assim muitas das que hoje estão enredadas no escândalo da Petrobras revelado pela Operação Lava-Jato. Adivinhem quem revogou o decreto em 14 de maio de 1991? Ele! Fernando Collor. Tarde demais, os tentáculos superavam o poder do Estado.

A Odebrecht até o final dos anos 60 era uma média empresa baiana. Aproximou-se dos militares e construiu o prédio sede da Petrobrás (!?) em 1971, o aeroporto Galeão e a Usina Nuclear de Angra! Naquela década houve uma evolução drástica das empreiteiras Camargo Correa, Andrade Gutierrez, Mendes Jr e OAS no ranking das maiores do Brasil. O País se desenvolvia, mas, o poder se concentrava nas mãos de poucos. O livro citado acima é um dos tantos que revelam a história promíscua que se cresceu poderosamente no período da ditadura.

A associação íntima entre o público e o privado na época da ditadura se consolidou com a contratação de militares em cargos de direção nas empresas. Os oficiais superiores assumiam diretorias e conselhos de grandes corporações. Fica claro que o que hoje vem sendo desvendado pela Operação Lava-Jato foi sendo construído ao longo de décadas. É óbvio, ululante, que o fato de existirem relações promíscuas entre empreiteiras e governos militares e civis não retira nenhum milímetro ou centímetro da responsabilidade do atual governo nas questões expostas atualmente. A ele governo Lula e agora Dilma cabe a responsabilidade de levar as ultimas consequências uma faxina histórica numa criminosa relação de lesa pátria que vem de longe.

Após construírem relações profundas com órgãos de Estado essas empresas passaram a patrocinar partidos políticos e manter a peso de ouro políticos profissionais que vêm agindo por décadas em defesa de seus interesses. Creditar apenas a Lula e Dilma o que foi denunciado no emblemático samba “Vai Passar” de Francis Hime e Chico Buarque; “Num tempo. Página infeliz da nossa história. Passagem desbotada na memória das nossas novas gerações. Dormia a nossa pátria mãe tão distraída. Sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações. Seus filhos erravam cegos pelo continente. Levavam pedras feito penitentes erguendo estranhas catedrais”, soa como desonestidade intelectual além de ser imoral. Insisto que precisamos buscar a gênese da nossa tendência macunaímica! Ah! “Macunaíma” o herói sem caráter de Mário de Andrade!

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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HÁ 50 ANOS
Os 200 da Operação Lava-Jato
https://www.osul.com.br/pao-e-circo-para-o-povo/ Pão e circo para o povo 2016-02-27
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