Sexta-feira, 27 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2025
Sob forte pressão de Donald Trump, os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) concordaram com um aumento histórico e radical em seus gastos militares para 5% do PIB (Produto Interno Bruto) de cada membro até 2035. Embora a cúpula de Haia, na Holanda, tenha gravitado em torno do presidente americano, Trump deixou novamente no ar várias dúvidas sobre seu comprometimento com a aliança.
Ao longo do encontro, o presidente americano sugeriu que “existem inúmeras definições para o Artigo 5” da Carta da ONU – o trecho que considera um ataque contra um dos membros como um ataque a todos, o mecanismo de segurança coletiva que é a base da aliança atlântica.
O acordo fechado na quarta-feira, vendido como “ambicioso” e “histórico”, representa um desafio para Europa e EUA. Os países europeus terão de dar um salto maior, em média, de 2% para 5% do PIB, enquanto os americanos passariam de 3,4% para 5% do PIB. No entanto, em termos nominais, o Pentágono teria de receber US$ 350 bilhões a mais, uma conta difícil de encaixar em um orçamento que sofre pressão do Congresso para ser mais enxuto.
Apesar do otimismo, o acordo não significa que todos realmente gastarão esse valor. Com muita habilidade diplomática, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou ter cumprido as exigências de Trump, mas o comunicado aprovado por unanimidade diz que “os aliados concordaram com o aumento” – e não “todos os aliados”.
A linguagem dúbia foi uma forma de projetar união e acomodar a Espanha, que gasta 1,3% do PIB em defesa e rejeita a nova meta. Apesar da pressão de Rutte e Trump, o premiê espanhol, Pedro Sánchez, bateu o pé.
“Não vamos fazer isso. A Espanha gastará 2,1% de seu PIB em defesa. Nem mais, nem menos, porque isso é tudo o que o país precisa para cumprir as metas de capacidade militar estabelecidas pela Otan”, afirmou o espanhol, que defendeu a necessidade de equilibrar suas prioridades domésticas com a defesa.
Trump ficou furioso e descarregou sua cantilena habitual contra Sánchez. “A Espanha é terrível, o que eles fizeram”, disse o presidente americano. “Estamos negociando um acordo comercial com a Espanha. Vamos fazer com que eles paguem o dobro. Estou realmente falando sério sobre isso.”
No entanto, não está claro como Trump poderia punir a Espanha por meio de políticas tarifárias. Os EUA estão negociando um acordo comercial com toda a União Europeia, da qual a Espanha é apenas um membro – a política comercial europeia, com base no mercado único, não permite tratados individuais sobre o tema dentro do bloco.
O precedente espanhol pode abrir uma brecha para outros países. A Bélgica deixou dúvidas de que cumprirá o acordo para a elevação de gasto, alegando dificuldades orçamentárias. “Não há tratamento especial para nenhum país membro. É o mesmo texto. Se a interpretação da Espanha estiver correta, qualquer um pode interpretar o texto da mesma forma”, disse o primeiro-ministro belga, Bart de Wever.
O primeiro-ministro de Luxemburgo, Luc Frieden, também não se comprometeu a atingir a meta de 5% – o país gasta atualmente 1,3% em defesa. “Nosso objetivo é continuar aumentando nos próximos anos, mas precisamos de uma meta que seja inteligente e adaptável.”
Apesar das divergências, Rutte conseguiu seu principal objetivo: deixar Trump satisfeito. Parte da tarefa envolveu elogios ao presidente – incluindo chamar o americano de “papai”. “Há momentos em que o ‘papai’ tem de usar uma linguagem mais dura”, disse o secretário-geral da Otan, ao comentar a linguagem ríspida com Irã e Israel.
Trump parecia contente. “Ele gosta de mim, acho que ele gosta de mim. Se não gostar, eu te aviso, volto e vou bater nele com força”, afirmou o presidente americano, claramente feliz com a situação. “Ele falou de um jeito muito carinhoso.”
Antes de encerrar o dia, Trump disse que o encontro foi “um sucesso”. “Eles (europeus) querem proteger seu país. Eles precisam dos EUA, e sem os EUA não será a mesma coisa. E você pode perguntar ao Mark (Rutte) ou a qualquer pessoa que estava na cúpula. Foi realmente emocionante ver isso”, disse o presidente. “Saio daqui dizendo que essas pessoas realmente amam seus países. E estamos aqui para ajudá-los a proteger seus países.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.