Quarta-feira, 15 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 14 de junho de 2015
Sem críticas à política econômica, sem defesa da volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) e sem decisão sobre mudanças no funcionamento interno do partido, o PT encerrou no sábado o seu 5º Congresso, em Salvador (BA), em uma sessão tumultuada e com hostilidades ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), do PMDB, legenda que é principal aliada do governo federal. No último ato do encontro, o presidente do PT, Rui Falcão, fez uma defesa pública do ex-tesoureiro do partido João Vaccari, preso desde o dia 15 de abril em desdobramento da Operação Lava-Jato.
Apesar da insatisfação das correntes minoritárias, as propostas defendidas pelo grupo que comanda a legenda, do qual faz parte o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram amplamente aprovadas. Com participação de cerca de 650 dos 750 delegados que compareceram ao congresso, o partido decidiu, por falta de tempo, remeter ao diretório nacional a deliberação sobre algumas emendas ao texto final do encontro. A decisão provocou vaias. Entre as questões transferidas para o comando da legenda está a manutenção ou não da decisão de não aceitar mais doações de empresas para custear o funcionamento da sigla.
O congresso definiu as diretrizes para atuação do partido nos próximos anos. Apesar de teses iniciais das correntes internas e manifestos lançados durante o encontro criticarem de forma direta a política econômica e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o texto final deixou de lado qualquer menção mais dura às medidas do governo.
Uma emenda com ataques diretos proposta por petistas ligados à CUT (Central Única dos Trabalhadores) foi rejeitada pelos delegados. A única alteração aprovada em relação ao texto-base, chamado de “Carta de Salvador”, fala em “conduzir a orientação geral da política econômica para implementação de estratégias para retomada do crescimento”.
A proposta era fruto de um acordo entre as principais tendências internas, incluindo a CNB, a corrente majoritária. O texto original do adendo que foi lido no plenário do congresso falava em “alterar a política econômica”, mas a aprovação só ocorreu depois da exclusão do termo.
Ao discursar contra mudanças no texto-base a respeito da política econômica, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), evidenciou que o partido não poderia sair rachado do evento como “querem a direita e a mídia”. “É fundamental que o PT afirme e reafirme que está ao lado do governo”, ressaltou Costa, sendo vaiado pelos sindicalistas.
Apesar de ter a sua emenda original rejeitada, o grupo ligado à CUT se manifestou com gritos de “a CUT tem razão, ajuste é recessão”.
Questionado se a presidenta Dilma Rousseff saiu vitoriosa do encontro petista, Falcão rejeitou a análise. “A presidenta não estava sendo julgada neste encontro.”
Mas, segundo o presidente do PT, o documento foi construído justamente com o objetivo de evitar embaraços. O texto defende a criação de impostos sobre grandes fortunas, grandes heranças e lucros e dividendos. Mas, com divisão dentro do grupo que comanda a legenda, a CPMF foi retirada do documento, na única derrota de uma posição pessoal de Falcão.
Em outro momento polêmico do encontro, os petistas rejeitaram a possibilidade de romper a aliança com o PMDB para as eleições de 2016. A votação de uma emenda, que chamava o principal aliado de “sabotador do governo”, gerou hostilizações a Cunha.
Quando o líder do governo na Câmara, José Nobre Guimarães (PT-CE), defendia a rejeição da emenda, os delegados petistas começaram a gritar: “Fora Cunha”. A emenda foi rejeitada pela maioria dos presentes, sem necessidade de contabilizar individualmente os votos.
Conflito – Diante das ameaças de isolamento do vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer, por integrantes do Planalto, Cunha (PMDB-RJ), avisou: “Qualquer tentativa de sabotagem do Michel acabará em ruptura”. Em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, Cunha admitiu rusgas com Temer, mas prometeu solidariedade e ameaçou antecipar o desembarque do PMDB do governo. “O PMDB dificilmente repetirá a aliança com o PT. Este modelo está esgotado.” Ele cobrou “adesão” do PT ao governo Dilma e atribuiu ao partido a impopularidade da presidenta. Sobre críticas de aliados e opositores, o parlamentar disse preferir ser “ditador” a “frouxo”.