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Edson Bündchen Rodas e algoritmos

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Chacoalhados pelo frenesi de mudanças sem precedentes, estamos sendo testemunhas de um confronto inédito entre a impermanência e o já estabelecido. Nesse embate, o que é tradicional se defronta com inovações crescentes, num ritmo e urgência que colocam em xeque a nossa própria capacidade de assimilação dessas transformações. Harmonizar a base estrutural vigente, moldada em milhares de anos, com a atordoante avalanche de informações, tem se revelado um desafio cada vez mais relevante. A correta dosagem entre aquilo que significa avanço com a preservação do habitual, será determinante para a modelagem do nosso futuro.

A ordenação de todas as coisas, do ponto de vista da inserção humana no planeta, deriva, em larga medida, das limitações biológicas, psicológicas e comportamentais de cada homem ou mulher. Existe, nesse sentido, uma predisposição natural para que tudo seja da maneira que é. A coletividade, a partir da ascensão dos aglomerados urbanos, passou a necessitar de ordem e, para tanto, modelos de coexistência foram desenvolvidos numa matriz de infraestrutura elementar. Não foi, contudo, algo que pudesse ser proativamente deliberado ou pensado, mas fruto das virtudes e limitações da nossa espécie, que delimitaram o modo como se poderia viver comunitariamente, dentro de uma arquitetura-base organicamente construída.

Também é assim em relação às normas morais que governam o comportamento das pessoas. Padrões derivados das barreiras existenciais, paixões e interesses determinam o certo e o errado a partir da necessidade de autopreservação. Esse modelo contingente, naturalmente, também influenciou outras formas de entidades coletivas, tais como as empresas. Organizações humanas por excelência, as empresas são réplicas da arquitetura social vigente, e são governadas pelos mesmos princípios básicos do arquétipo geral dominante. Quando o teórico clássico em Administração, Henry Fayol, falou em planejar, organizar, dirigir e controlar, ele nada mais estava fazendo do que reproduzir no universo corporativo uma imposição natural de como as coisas de fato ocorrem. Nessa perspectiva, Fayol apenas trouxe à tona algo que jazia subjacente, uma espécie de sistema dinâmico auto-organizado, quase que matematicamente explicável.

O poder das forças intangíveis que modelam e guiam a ação humana, quer num desenho mais ampliado da sociedade ou numa abordagem mais limitada nas organizações, enfrenta agora um verdadeiro paradoxo imposto pelo avanço exponencial das tecnologias de comunicação: estamos encharcados de informações e carentes de conhecimento. Somos incapazes de absorver sequer uma fração da torrente de pesquisas, conhecimentos e referências que são disponibilizadas diariamente por múltiplos canais. Nossas limitações cognitivas e temporais nos impõem restrições concretas, e dessa impotência intelectual emergem pessoas cada vez mais angustiadas e adoecidas, trazendo para o centro do palco a questão das emoções, da busca pelo equilíbrio e da gestão do tempo.

Os nascidos a partir do início deste milênio, diferentemente das gerações anteriores, já não terão nenhum paradigma analógico como referência, e serão os primeiros a construir o novo a partir de um repertório totalmente digital. De que forma isso irá ecoar na maneira essencial sobre a qual a moderna sociedade se edificou, ainda é muito cedo para antecipar. A aceleração do tempo provocada pelas novas tecnologias, com suas repercussões sociais, políticas e econômicas jamais foi testada com tamanha urgência, em contraste com a construção histórica, algo entre o orgânico e o artesanal, com o gradualismo prevalecendo até hoje. Os algoritmos modernos, entretanto, parecem bem menos resignados e mais nervosos do que o Crivo de Eratóstenes. Domar essa apressada inquietude, sem perder a essência, parece ser nosso maior desafio.

 

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