Sexta-feira, 20 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de maio de 2023
Dos 15 chefes de Estado e governo que desembarcaram em Hiroshima, só aqueles que representam os países do Grupo dos Sete (G7) tiveram lugar na foto de família desta sexta-feira (19). Mas para entender os interesses que pautam a reunião, é necessário olhar para os outros oito países convidados: a presença de Brasil, Índia e Indonésia, por exemplo, evidencia um Sul Global cada vez mais disputado e influente em um cenário de mudanças geopolíticas.
Há 30 anos, os integrantes do G7 — Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido — representavam juntos quase 70% do Produto Interno Bruto global. Hoje, respondem juntos por cerca de 44%, em termos nominais. E a tendência é que o percentual continue a cair, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Os debates sobre a relevância do grupo e a necessidade de expandir a mesa de conversa são antigos: influenciaram, por exemplo, a dimensão aumentada que o Grupo dos 20 (G20) adquiriu após a crise financeira de 2008. Não à toa, os países do G7 tentam cortejar aliados no Sul Global, movimento ao qual os anfitriões japoneses são particularmente favoráveis.
Tóquio convidou para a reunião Brasil, Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Comores (país na presidência rotativa da União Africana), Austrália, Vietnã e Ilhas Cook (atualmente à frente do Fórum das Ilhas do Pacífico). São todos países estratégicos no que diz respeito aos dois assuntos que devem pautar a cúpula: a guerra na Ucrânia e a ascensão chinesa.
Os assentos extras por si só não são novidades: essa, por exemplo, é a sétima cúpula do G7 do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contando com as participações em seus dois primeiros mandatos. Mas o octeto deste ano é um claro reflexo da tentativa das nações industrializadas de convencer o mundo em desenvolvimento de que há uma alternativa aos russos e chineses.
Vários países de renda média e baixa, contudo, têm dependência econômica de Moscou e Pequim. A maioria dos Estados emergentes adota uma posição de neutralidade diante do conflito entre Moscou e Kiev e se recusa a adotar a enxurrada de sanções econômicas encabeçadas pelos EUA e a União Europeia (UE).
Entre os convidados, o Vietnã é um país próximo da Rússia desde a época da Guerra Fria — 60% de suas armas, por exemplo, vêm de Moscou. Se Indonésia e Brasil votaram na ONU para condenar a invasão, a Índia se absteve. Ao lado da China, o país do Sul Asiático aumentou o volume de petróleo comprado do Kremlin, afirmando que não pode se dar ao luxo de pagar mais caro pelo combustível.
A vulnerabilidade do entendimento entre Moscou e Kiev que permitiu a exportação de grãos ucranianos por meio de portos no Mar Negro também gera preocupação. O risco da escassez que um novo bloqueio pode causar é temido particularmente nos países mais pobres do mundo, em sua maioria na África, onde o impacto pode ser catastrófico.
Os convidados, portanto, devem dificultar a transmissão de uma imagem coesa sobre o apoio à Ucrânia e os riscos do conflito catalisado por uma Rússia que, até 2014, fazia o G7 ser G8. Há nove anos, o país foi suspenso por tempo indeterminado em represália à anexação ilegal da Península da Crimeia.
O G7 surgiu em 1975 para que os aliados não comunistas debatessem preocupações econômicas acentuadas pela crise do petróleo daquela década, mas a Guerra Fria naturalmente tornou-se pauta. Com o colapso soviético e a aproximação da Rússia do Ocidente durante os anos 1990 e o início do milênio, o ingresso russo veio em 1998.
A reunião ganhou nova camada nesta sexta, quando autoridades ucranianas sinalizaram que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também deve ir ao Japão. Lá, deve reforçar seus pedidos perenes às nações do G7 por mais auxílio militar e humanitário, às vésperas de uma aguardada contraofensiva cujas probabilidades de sucesso são vistas com alguma hesitação.
O Itamaraty confirmou que os ucranianos solicitaram uma reunião de seu mandatário com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A imprensa indiana também sinaliza que houve acenos para o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.
Para o presidente ucraniano, uma oportunidade de vender seu peixe. Para o brasileiro, em sua missão de reposicionar o país na cena internacional após quatro anos de afastamento durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, é uma chance de vender seu projeto de criar um clube de nações para intermediar a paz. Também é um símbolo de prestígio e da boa vontade de algumas das nações mais ricas do planeta com o governo brasileiro.
A escolha do Brasil também é indissociável da crescente influência chinesa na América Latina — a visita de Lula a Pequim em maio e seus comentários críticos aos EUA geraram, na ocasião, desconforto em Washington. As relações econômicas de Pequim com a região aumentaram exponencialmente desde o início do milênio, e o Ocidente está de mãos relativamente atadas para reverter tal tendência. As informações são do jornal O Globo.