Segunda-feira, 28 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2022
O embate eleitoral entre o ex-juiz Sérgio Moro e o seu ex-padrinho político Alvaro Dias por uma vaga ao Senado pelo Paraná se transformou numa troca de acusações. Não por acaso, agora o ex-magistrado e o Podemos ameaçam ir à Justiça para resolver a contenda.
Moro acusa a antiga sigla de não tomar medidas contra suspeitas de corrupção interna. O ex-magistrado afirma que condicionou a sua permanência no Podemos à contratação de uma auditoria externa para apurar possíveis irregularidades. Segundo o ex-juiz, o resultado preliminar indicou sólidos indícios, mas os dirigentes da sigla e Alvaro Dias nada fizeram a respeito. Moro afirma que esse foi o principal motivo que o levou a deixar a legenda e migrar para o União Brasil.
“O resultado preliminar indicou a necessidade de aprofundamento, em face de sólidos indícios. O assunto era de conhecimento da alta direção do Podemos e de lideranças como o Senador Álvaro Dias, que decidiram não tomar qualquer medida após o resultado preliminar”, disse a nota da assessoria do ex-juiz.
O Podemos, por sua vez, rebate. A sigla sustenta que Moro beneficiou a empresa de um amigo advogado, que supostamente não teria apresentado relatórios de prestação de serviço referente ao trabalho de formulação do programa de governo do ex-juiz, cujo projeto na época era concorrer à presidência da República.
Ainda de acordo com o Podemos, o ex-juiz exigiu reembolso do fundo partidário para repaginar o visual com roupas de grife. O partido, no entanto, afirma que não fez esse pagamento por falta de comprovação do objeto. Segundo o jornal O Globo, o valor foi quitado com recursos próprios do aliado e primeiro suplente da chapa de Moro, o advogado Luis Felipe Cunha, que, em entrevistas, tem negado qualquer irregularidade.
Questionado sobre o assunto, Moro respondeu que “o fato é mentiroso e jamais pedi algum tipo de reembolso neste sentido”.
A legenda apresentou uma nota fiscal de camisas, calças e bermudas, entre outros itens, que somam R$ 45 mil. O recibo é de uma loja de Alfaiataria em Moema, na Zona Sul da capital paulista. Aliados de Moro afirmam que a mudança no vestuário do ex-juiz foi feita a pedido da própria direção do Podemos, que pretendia suavizar sua imagem de austeridade.
O Podemos contestou a acusação de Moro de que há indícios de corrupção na legenda. A legenda divulgou uma nota da empresa responsável pela auditoria, a Saud Advogados, do último dia 30 de agosto. Nela, o escritório informa que a apuração não conclui a ocorrência de “atos ilícitos”. O escritório responsável pela auditoria acrescenta que “foram identificados pontos de atenção e oportunidades de melhoria para o programa de compliance do Podemos”.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ex-juiz disse ao jornal O Globo que adotará “medidas judiciais cíveis e criminais cabíveis” contra o Podemos e seus dirigentes envolvidos em acusações caluniosas e difamatórias contra ele.
O partido retrucou e disse que o “resultado da auditoria é objetivo e conclui pela regularidade integral, sem qualquer prova contrária atestando expressamente que nenhuma prova de ilícito foi identificada”. A sigla ainda diz que Moro faz “ilações” e que já foi solicitado ao departamento jurídico do partido apuração de eventual crime de calúnia, por imputação de crime não comprovado.
“É lamentável que uma pessoa, que já foi admirada nacionalmente, tenha descido ao nível de fazer ilações e se basear em supostos indícios ferindo a credibilidade de pessoas e instituições”, diz a nota do Podemos.
Procurado, o candidato Alvaro Dias disse por um aplicativo de mensagem que não fala a respeito de seus nove concorrentes na eleição ao Senado do Paraná. “Não distingo um dos outros. Por isso não devo participar desse debate que cabe à direção nacional”, escreveu Dias.
Racha entre aliados
Alvaro Dias foi o principal articulador da entrada de Moro na política – o ex-juiz se filiou ao Podemos pelas mãos de Dias para concorrer à Presidência. Depois de ver frustrada a intenção inicial, Moro migrou para o União Brasil e ainda ensaiou uma candidatura ao Senado por São Paulo. No entanto, o Tribunal Regional Eleitoral rejeitou a sua mudança de domicílio eleitoral do Paraná para São Paulo. Com isso, ele decidiu se candidatar ao Senado no Paraná pelo União, pondo em risco a reeleição de Dias.
De acordo com pesquisa Ipec de agosto, Dias lidera as intenções de voto naquele estado. O senador aparece com 34%. Moro aparece na segunda posição com 24%. O bolsonarista Paulo Martins (PL) está em terceiro, com 3%. As informações são do jornal O Globo.