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Colunistas Trump, o indivíduo e as engrenagens da história

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A trajetória de Donald Trump, do mundo corporativo ao comando da Casa Branca, reacende um velho e fascinante debate das ciências sociais: afinal, quem move a história — os indivíduos ou as estruturas sociais? Trump seria apenas um produto de seu tempo ou um protagonista capaz de mudar o curso dos acontecimentos? Entre o absoluto da figura e a conjuntura, quem prevalece? Essa reflexão poderia ser apenas uma distração intelectual, porém, diante do comportamento polêmico e imprevisível do atual presidente americano, tais especulações adquirem um sentido de maior urgência.

A história, é imperioso que se diga, raramente oferece respostas simples. Desde Marx, aprendemos que “os homens fazem a história, mas não a fazem como querem; fazem sob circunstâncias que já encontram dadas, herdadas do passado.” Isso vale para reis, generais, ditadores ou presidentes. As estruturas sociais, políticas e econômicas criam os limites, mas não anulam o papel do indivíduo, que pode, dentro desse campo de possibilidades, acelerar, frear ou desviar o fluxo histórico. Os exemplos abundam e permeiam decisões cruciais que poderiam mudar o destino de todos nós. Para ficar em apenas dois, imaginemos o que resultaria caso Hitler não tivesse insistido e colocado em marcha a desastrada Operação Barbarossa, ao invadir a Rússia, durante a Segunda Guerra Mundial? Como estaríamos, ou não estaríamos, se Nikita Khrushchov não recuasse no caso da Crise dos Mísseis em Cuba, em 1962?

Trump é um caso exemplar dessa tensão sobre o peso do indivíduo na história. Sua ascensão política coincidiu com a fragilização do Partido Republicano, com o desgaste da democracia liberal nos EUA e com o surgimento de uma nova dinâmica comunicacional, baseada nas redes sociais. Tudo isso o preparou para ocupar um espaço político vago: o do populista reacionário que fala diretamente ao “cidadão comum”, enquanto dribla as mediações institucionais.

Mas Trump não foi apenas uma peça que se encaixou num quebra-cabeça histórico. Sua intuição para captar o humor social e sua habilidade em movimentar sentimentos morais — medo, ressentimento, patriotismo — foram instrumentos decisivos. O ex-presidente transformou suas redes sociais em palanques permanentes, compreendendo, antes de muitos políticos, que a linguagem curta, agressiva e emocional se tornara a nova gramática do debate público.

A história mostra que líderes carismáticos quase sempre emergem em tempos de crise. Napoleão, Hitler, Perón, Getúlio Vargas — todos ocuparam espaços abertos por falhas institucionais e por sociedades dilaceradas política ou economicamente. Trump segue essa tradição, embora os EUA estejam muito longe de estarem em crise, mas com um elemento novo: a simbiose entre carisma individual e tecnologia. Sua ascensão não foi só sobre ideias, mas sobre o uso estratégico de plataformas digitais, onde a lógica da emoção sobrepõe-se ao argumento racional.

Nesse contexto, a pergunta clássica — “quem faz a história?” — ganha nuances. Trump é, sim, produto de uma crise de representação e de um momento de enfraquecimento das estruturas democráticas ocidentais. Mas é também agente dessa crise, na medida em que sua liderança a alimenta e a radicaliza. Como tantos outros na história, ele representa a dualidade entre ser efeito e causa, entre surfar na onda e moldá-la.

A história não é feita apenas por grandes homens, nem somente pelas forças anônimas das estruturas sociais. É, na verdade, o palco de um jogo dinâmico, no qual indivíduos como Trump podem acelerar e potencializar tendências que já estavam em gestação.

No fim das contas, a lição é menos sobre heróis e mais sobre contexto. Quando as democracias liberais se fragilizam e as instituições perdem vigor, figuras como Trump surgem — não por acaso, mas porque a história, como bem dizia o historiador Eric Hobsbawm, sempre abre espaço para o inesperado quando as estruturas vacilam.

(edsonbundchen@hotmail.com)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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https://www.osul.com.br/trump-o-individuo-e-as-engrenagens-da-historia/ Trump, o indivíduo e as engrenagens da história 2025-04-17
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