Sábado, 18 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 22 de junho de 2021
A União Europeia deu luz verde nesta terça-feira (22), em Roma, ao enorme plano de reativação econômica da Itália, o mais volumoso pacote de recuperação do bloco, com o objetivo de revigorar uma economia devastada pela pandemia do coronavírus.
A aprovação do pacote italiano acontece após a autorização, na semana passada, dos pacotes de Portugal, Espanha e Grécia.
A Itália é o maior beneficiário do megaplano de recuperação europeu. Para ter acesso aos fundos coletivos, a serem pagos por todos os países do bloco, Roma elaborou um programa de investimentos de € 222,1 bilhões (R$ 1,3 trilhão), dos quais € 191,5 bilhões (R$ 1,1 trilhão) vêm de fundos europeus e mais de € 30 bilhões vêm do próprio governo italiano (R$ 177 bilhões).
O plano deve ser executado entre 2021 e 2026, e, para poder ter acesso aos recursos, o governo liderado pelo economista Mario Draghi precisou se comprometer a realizar uma série de reformas importantes, cumprindo assim um requisito instituído por Bruxelas.
O pacote de recuperação europeu constituiu a primeira vez em que a dívida do bloco foi mutualizada – isto é, que todos os países se comprometeram a pagar pela recuperação de alguns. Na prática, isso significa uma transferência de recursos de países do Norte para os do Sul.
Economistas entendem que o sucesso da iniciativa coletiva depende, em larga medida, de como os maiores beneficiários – em primeiro lugar, a Itália, e, em segundo, a Espanha – irão empregar os recursos recebidos. Se os investimentos forem mal empregados, países pró-austeridade, como Holanda e Áustria, irão tirar proveito político do fracasso para, no futuro, se oporem à transferência de recursos.
O impacto da pandemia na economia italiana, a terceira maior da Europa, foi muito severo. O PIB do ano passado caiu 8,9%, a pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
O ambicioso plano de investimento se concentrará na digitalização, transição verde e infraestrutura, especialmente no setor ferroviário. Será dada prioridade também ao emprego de mulheres e jovens, os primeiros a perderem o emprego devido à pandemia. Igualmente, o pacote buscará impulsionar a economia do “Mezzogiorno”, os pobres e desfavorecidos ao sul do país.
“Estamos cientes de que esta é uma oportunidade única na vida”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, dos estúdios de cinema Cinecittá, emblema do milagre econômico italiano após a Segunda Guerra Mundial.
A liderança de Mario Draghi, ex-presidente do Banco Europeu, é vista como um elemento tranquilizador para as entidades europeias. O economista, que em seu discurso falou em “um novo amanhecer” para a Itália, nomeou cerca de trinta comissários, com poderes especiais para concluir 57 projetos de infraestrutura bloqueados na famosa burocracia italiana, e emitiu uma série de decretos para simplificar e agilizar os procedimentos.
“Hoje é dia de se orgulhar”, disse Draghi, comemorando a aprovação pela Comissão Europeia do plano italiano, e prometendo gastar os recursos com eficiência e honestidade. “Desenvolvemos um plano para que nosso país seja mais justo, mais competitivo e mais sustentável em seu crescimento.”
A primeira parte do financiamento, de € 24 bilhões, deve chegar em quatro semanas, disse Von der Leyen. Ela afirmou que os investimentos devem fazer a economia italiana crescer de 1,5% a 2,5% do PIB a mais até 2026, criando 240 mil empregos.
“Será um momento muito difícil e a Comissão Europeia seguirá cada passo. Se a Itália estiver forte, a União Europeia estará forte”, disse a presidente da Comissão Europeia.
Para Carlo Altomonte, professor de Economia da Universidade Bocconi em Milão (norte), a pressão sobre a Itália é enorme. “Se o plano italiano falhar, isso poria em risco toda a política econômica comum europeia”, disse.