Sexta-feira, 18 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 14 de dezembro de 2022
As farmacêuticas Moderna e Merck, MSD no Brasil, anunciaram resultados da segunda, e penúltima, fase dos testes clínicos de uma vacina terapêutica personalizada para o melanoma – tipo de câncer de pele mais letal. A aplicação, que utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) impulsionada pelas doses desenvolvidas para a Covid-19, levou a uma redução da recorrência do tumor ou de morte pela doença de 44% entre os pacientes.
Com os resultados promissores, inéditos no uso da tecnologia no combate ao câncer, os laboratórios pretendem conversar com as agências reguladoras para dar início à fase 3 dos testes clínicos, última etapa antes de uma possível aprovação, em 2023. Além disso, têm planos de expandir o uso da plataforma de forma rápida para aplicação contra outros tipos de tumores.
“Os resultados de hoje são altamente encorajadores para o campo do tratamento do câncer. O RNAm foi transformador para a Covid-19 e agora, pela primeira vez, demonstramos o potencial para ter um impacto nos resultados em um ensaio clínico randomizado com melanoma”, disse o CEO da Moderna, Stéphane Bancel, em comunicado.
Ele diz ainda que os dados completos do estudo devem ser apresentados em uma próxima conferência médica de oncologia, além de compartilhado com profissionais da saúde e autoridades sanitárias. No comunicado, as farmacêuticas destacam que a aplicação demonstrou ser segura nos testes, sem efeitos adversos graves.
“As expectativas em relação ao potencial das vacinas terapêuticas, que contam com uma tecnologia mais complexa, são grandes. Os dados de redução de 44% apresentados são significativos, mas precisam ser confirmados na fase 3 dos testes clínicos”, avalia a oncologista Angélica Nogueira Rodrigues, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O RNAm é alvo de estudos há anos, mas saiu de fato do papel com as vacinas da Pfizer e da Moderna contra a Covid-19, que comprovaram a alta eficácia e segurança da tecnologia. Para estimular a resposta imunológica, essa plataforma atua como um código de instruções que ensina as próprias células do corpo a produzirem determinada proteína.
Esse material, por sua vez, é lido pelo sistema imune para criar as defesas. No caso da Covid-19, por exemplo, o imunizante faz com que o corpo produza uma parte do próprio coronavírus, que sozinha é inofensiva, mas consegue fazer com que o organismo reconheça aquele invasor para se proteger quando for contaminado.
No caso da dose contra o melanoma, como o câncer é diferente de pessoa para pessoa, ela é chamada de vacina personalizada. Os cientistas coletam o material genético específico do tumor de determinado paciente, isolam as proteínas e depois criam o imunizante. Com isso, a aplicação ensina o sistema imune a destruir as células cancerígenas.
Essa estratégia é necessária porque os tumores carregam na superfície checkpoints, que são proteínas responsáveis por “esconder” o câncer do sistema imunológico e, com isso, não ser atacado por ele.
Eficácia nos testes
O novo tratamento em testes consiste em uma combinação da vacina inédita com o medicamento da MSD Keytruda, um anticorpo monoclonal considerado hoje a linha de combate padrão para o melanoma. Ele atua induzindo uma resposta do sistema imune justamente por inibir os checkpoints do câncer.
No estudo, os cientistas recrutaram 157 participantes com melanoma em estágio 3 e 4 após uma cirurgia de ressecção completa do tumor. Eles foram divididos em dois grupos, em que metade recebeu apenas o Keytruda, e a outra metade a combinação com a vacina.
No total, a terapia durou cerca de um ano. Foram administrados 18 ciclos de 200 mg do medicamento a cada três semanas para o primeiro grupo e, para o segundo, também um total de nove doses da vacina. As aplicações proporcionaram uma redução de 44% na volta do tumor e nas mortes em comparação com aqueles que só receberam o Keytruda.
“É uma nova estratégia para usar a imunidade do paciente no combate ao câncer. A expectativa é grande, visto que a ciência trouxe grandes ganhos no tratamento com a imunoterapia para diversos tipos de tumores nos últimos 10 anos. Os resultados anunciados são ainda preliminares, mas mostram que essa combinação de ferramentas pode ser possível, o medicamento inibidor de checkpoint junto com a vacina”, diz a professora e pesquisadora da UFMG.
As empresas Moderna e MSD deram início à parceria para desenvolvimento e comercialização da vacina originalmente em 2016, mas somente em outubro deste ano o acordo foi oficializado por meio de um pagamento de US$ 250 milhões pela MSD, já que a tecnologia da vacina é da Moderna. Na época, os laboratórios já haviam anunciado que esperavam os dados da fase 2 dos testes ainda em 2022.
“Estas descobertas positivas representam um marco importante em nossa colaboração com a Moderna. Ao longo dos últimos seis anos, nossas equipes trabalharam em estreita colaboração combinando nossa respectiva experiência em RNAm e imuno-oncologia, com foco na melhoria dos resultados para pacientes com câncer. Estamos ansiosos para avançar este programa para a próxima fase de desenvolvimento”, afirma Dean Li, presidente da divisão de laboratórios da MSD. As informações são do jornal O Globo.