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Por Redação O Sul | 29 de julho de 2019
A cobertura vacinal em crianças de até 1 ano está em queda no Brasil, apontam dados do Ministério da Saúde. De acordo com os números mais recentes, a taxa de vacinação da tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, passou de 102,3% em 2011 para 90,5% em 2018. O número está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde, que é de 95%. As informações são do jornal O Globo.
A taxa da vacinação da poliomielite – aplicada aos dois meses do bebê contra paralisia infantil – caiu de 101,3% em 2011 para 86,3% em 2018. A cobertura vacinal da BCG era de 107,9% em 2011 e também caiu para 95,6% em 2018. A vacina é aplicada no bebê ainda na maternidade e protege contra formas graves da tuberculose. O problema se estende ainda para a meningocócica C, que antes tinha uma taxa de 105,6% e passou a ter apenas 85,6% de cobertura vacinal.
Segundo especialistas, a baixa na cobertura vacinal é um problema mundial e pode explicar os recentes surtos de vírus como o sarampo, que já contagiou quase 500 pessoas em todo o Estado de São Paulo. Para Geraldo Barbosa, presidente da Associação Brasileira das Clínicas de Vacina, o Brasil é “vítima do sucesso da vacina”. Por anos, o percentual de crianças vacinadas foi de cerca de 100%, o que fez os casos de doenças desaparecerem ou caírem a níveis insignificantes. Com isso, criou-se a falsa impressão que a ameaça não existia mais.
“Os vírus nunca deixaram de circular. E, quando há redução da cobertura de vacinas, os casos aparecem com frequência”, explica Barbosa.
Outro fator que afeta negativamente a vacinação é a desinformação. Dados falsos têm aumentado a resistência de algumas famílias a imunizarem seus filhos. Isso explicaria um fato aparentemente paradoxal: em São Paulo, Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, por exemplo, a cobertura vacinal é inferior à de várias regiões do interior com renda per capita inferior. A hipótese mais aceita é de que nos centros urbanos há mais acesso a informações, tanto às verdadeiras quanto às sem base científica.
“A população está com bastante resistência porque tem medo dos efeitos colaterais da vacina ou acha que a vacina não protege”, diz Júlio Croda, diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Ele reforça que a vacina é o principal componente de acesso à saúde: “A vacina é a intervenção mais custo-efetiva na medicina. Previne adoecimento e óbito. Nenhuma medida de saúde pública é mais efetiva do que a vacinação.”
Problemas de política pública, para além da questão cultural, também influenciam. “Com 14 milhões de desempregados, qual pai ou mãe se arrisca a faltar um dia de serviço para levar a criança para vacinar? Há problemas também de como são feitas as campanhas. Antigamente faziam-se os dias ‘D’ de vacinação, com uma mobilização nacional intensa. São estratégias que precisam ser melhor pensadas. Inclusive a volta da vacinação nas escolas”, diz Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, zona oeste de São Paulo.
Em nota, o Ministério da Saúde informou que a cobertura vacinal é uma prioridade para a gestão da saúde. A pasta planeja lançar em outubro deste ano uma campanha de multivacinação, em um esforço de incentivar os brasileiros a manter a carteirinha em dia.