Segunda-feira, 19 de maio de 2025
Por Gelson Santana | 19 de maio de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Ao pensar sobre mais um escândalo envolvendo a área pública e que revisitou nas últimas semanas, me lembrei de um dos primeiros filmes que assisti em meados dos anos 80, o E.T. Extraterrestre.
Assisti várias vezes. Mas, tem alguns que assisti naquele tempo e nem de graça quero rever. Já no mundo da corrupção, não cabe ao povo dizer: não vamos mais ver. Ou seja, quando pensamos que não iremos mais assistir ao remake de um filme que passou décadas, ou há poucos anos, eis que ele volta. Aliás, várias vezes voltou, infelizmente, ao cartaz, mesmo com a maioria esmagadora torcendo para não voltar.
Refiro-me às recentes fraudes no INSS e estamparam as manchetes de todos os meios de comunicação. Mais um remake que teve várias versões nas últimas décadas. Umas mais recentes e outras, entre elas Lava Jato, Banco Marka, Juiz Lalau.
No caso da autarquia que administra o sistema de Previdência Social do país, financiado pelas contribuições dos trabalhadores e empregadores, o que estamos assistindo agora foi visto em 1991. Quem não assistiu ao vivo só dar uma pesquisada. O famoso Escândalo da Previdência comandado por Jorgina de Freitas, que até recentemente era apontado como a maior fraude ocorrida no Brasil contra a Previdência Social. Na época, as investigações chegaram a um grupo de fraudadores, que era formado por advogados, contadores e juízes.
Para termos uma ideia, o total da fraude foi inicialmente estimado em R$ 550 milhões (mais de 50% de toda a arrecadação do INSS naquela época). Para contextualizar, entre 1988 e 1990, a Jorgina foi cúmplice do bando que desviou mais de R$ 1,2 bilhão dos cofres da Previdência, usando até nomes de pessoas mortas.
Ela faleceu em 2022 e o Lalau em 2029. Certamente, se eu fosse detalhar os desdobramentos desses dois e os outros crimes citados, faltaria espaço aqui. No entanto, o que me vem à mente é como após, mais de três décadas, novamente um segmento social extremamente vulnerável, os aposentados, é vítima de um crime desses? Não restam dúvidas de que o governo que assistiu ao início disso tudo e de uma certa maneira facilitou a estruturação da quadrilha errou. Mais.
O governo atual contribui, em menor escala, para a continuidade, ao demorar para agir. Certamente alguém, ao ler, pode estar pensando: não vai falar nos sindicatos e associações denunciados? Todos os envolvidos, independente de quem representam, devem ser penalizados. Não tenho bandido preferido. O que é lamentável, para não dizer outra coisa, é assistir uma parte significativa da elite, dos reacionários de direita e dos inimigos da justiça social usarem mais uma vez fatos como este para atacar a representação sindical de trabalhadores.
Como qualquer segmento profissional, social e representativo, existem criminosos dos mais variados perfis. Não é porque dezenas de advogados estão envolvidos em fraudes e outros crimes que devemos carimbar a categoria como tal. Ou então o fato de alguns médicos abusarem sexualmente de suas pacientes, que todos não prestam.
O que os cidadãos e cidadãs de bem ficam se perguntando é se tudo isso não vai terminar em pizza? Esperamos que não. Apesar de um fato, relacionado ao combate a corrupção a nível mundial, no início desse ano nos deixou preocupados. O presidente americano assinou um decreto orientando o Departamento de Justiça a suspender os processos contra norte-americanos acusados de subornar funcionários de governos estrangeiros ao tentar ganhar ou manter negócios nesses países.
O decreto de Trump suspende a aplicação da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior (FCPA), que tem quase meio século de existência. ” Isso vai significar muito mais negócios para os Estados Unidos”, disse Trump. Ele queria derrubar a FCPA durante seu primeiro mandato. Ou seja, não podemos desconsiderar a inacreditável frase do líder de uma das principais economias do mundo. Que tem milhões de fãs mundo afora. Provavelmente devem bater palmas para sua medida que é uma injeção em prol da impunidade em casos de corrupção.
Apesar disso nós brasileiros devemos continuar confiando nas nossas Instituições. Na Polícia Federal que foi precisa nas investigações. No Ministério Público que desempenha um papel crucial na apuração da investigação e dos interesses da sociedade e o Judiciário na aplicação da devida pena aos criminosos.
Ah e na torcida para que não tenhamos mais um remake dessa série.
*Gelson Santana Presidente do STICC e Secretário Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil, Construção Pesada e em Montagem Industrial – UGT
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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