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Por Redação O Sul | 8 de junho de 2018
A chance de o Brasil viver uma crise como a da Argentina – apesar do susto com a disparada do dólar nos últimos dias – é pequena. A parcela em dólar da dívida brasileira é marginal, o déficit em transações com outros países é pequeno e a inflação, que costuma ser pressionada quando o real desvaloriza, está controlada. As informações são da BBC.
Ainda assim, a situação está longe de ser confortável. Entre as 18 principais economias emergentes, o País ocupa a segunda pior posição no ranking de vulnerabilidade feito pelo coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Armando Castelar, com base em índice feito pelo Fed, o Banco Central norte-americano, em 2016.
Dois anos atrás, o Fed tentava identificar as economias mais suscetíveis ao aperto nas condições financeiras externas, logo após os EUA subirem seus juros pela primeira vez em uma década.
Desde então, o indicador mostrou correlação forte com a desvalorização cambial das moedas desses países. Ou seja, quanto pior a posição, maior seria a perda de valor em relação ao dólar.
A arrancada da moeda norte-americana no Brasil nos últimos dias tem um componente, contudo, que foge do escopo das variáveis do indicador: o pessimismo em relação à política, personificado pela incerteza em relação às eleições e pela solução encontrada pelo governo para a greve dos caminhoneiros.
Na quinta-feira, depois de bater R$ 3,96, a cotação fechou o pregão a R$ 3,92. Nesta sexta-feira, depois de o Banco Central intervir no mercado de câmbio, anunciando injeção adicional de R$ 20 bilhões em contratos de dólar na próxima semana para aumentar a oferta de moeda norte-americana, a cotação recuou para R$ 3,70.
Cenário externo adverso
De forma geral, o dólar ganha força quando o banco central norte-americano sobe os juros. O movimento torna os títulos americanos mais rentáveis e estimula a saída de moeda dos mercados considerados mais arriscados, como os emergentes.
O ciclo de alta nos juros dos EUA, contudo, foi mais lento do que se esperava, e apenas agora os efeitos para os quais os economistas chamavam atenção em 2016 estão tomando forma de maneira mais concreta.
Desde março, o dólar ficou mais caro em praticamente todos os emergentes. As maiores desvalorizações, se considerado o acumulado em 2018, aconteceram na Argentina, na Turquia e no Brasil, nessa ordem.
“A mudança no ambiente externo também inclui a ameaça de guerra comercial entre EUA e China, a retirada dos EUA do acordo nuclear com o Irã – que, ao lado da crise na Venezuela, pressiona os preços do petróleo –, a política na Itália, na Espanha. Tudo isso gera ainda mais aversão ao risco”, avalia Castelar.
O indicador de Fed, que o economista atualizou com dados mais recentes, compila seis variáveis: saldo em conta corrente (o resultado das transações do Brasil com outros países), dívida pública bruta, inflação média trienal, variação trienal do crédito bancário para o setor privado, razão entre dívida externa e exportações, e reservas internacionais.
O Brasil tem uma situação melhor do que a maioria de seus pares nos indicadores relacionados ao setor externo. Ele tem o pior desempenho, contudo, quando se compara a dívida pública dos 18 países.
“O problema do Brasil é fiscal (o desequilíbrio das contas do governo) e o baixo crescimento”, diz o economista.