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Por Redação O Sul | 8 de setembro de 2019
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) admitiu que errou ao não assumir que era candidato à Presidência da República em 2014, ano em que a colega de partido Dilma Rousseff foi lançada à disputa. E disse que o desemprego no País não é da conta de Dilma, “como dizem os canalhas”.
A declaração ocorreu na semana passada em Curitiba (PR), onde o petista está preso. Ele havia sido perguntado se deveria ter sido o ministro-chefe da Casa Civil desde o início do segundo mandato de Dilma, em vez de tentar ocupar o cargo tarde demais.
Em 16 de março de 2016, o Palácio do Planalto anunciou que Lula comandaria a pasta, no entanto, a nomeação foi impedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Lula argumentou que aceitou o cargo mesmo sem achar conveniente e disse que deveria ter se assumido como postulante à Presidência em 2014.
“No Palácio do Planalto e em nenhum palácio do mundo cabem dois presidentes, não é possível. É preciso saber quais foram as circunstâncias que eu, naquela época, depois da uma hora da manhã, disse ‘sim’. Mas eu não achava conveniente politicamente, porque eu estaria entrando como o salvador da pátria”, afirmou.
“Mas também não vamos discutir isso agora, é desagradável. Se eu tivesse que citar um erro cometido por mim, é o de não ter assumido que eu era candidato em 2014 e não assumi porque gosto da Dilma, respeito ela e, democraticamente, ela tinha o direito de ser candidata”, destacou.
“O que eu acho é que nós não fizemos política corretamente. A Dilma, o PT, eu, todo mundo, erramos na política e colhemos o que plantamos, com a direita ensandecida querendo destruir o pouco que nós tínhamos conquistado de social nesse país”, disse. Em outro trecho da entrevista, Lula sinalizou que, se inocentado, pode concorrer às eleições presidenciais pelo seu partido em 2022.
Conversas
Conversas de Lula gravadas pela PF (Polícia Federal) em 2016 e mantidas em sigilo desde então enfraquecem a tese usada pelo hoje ministro Sérgio Moro para justificar a decisão mais controversa que ele tomou como juiz à frente da Lava-Jato.
Em 16 de março de 2016, cinco horas depois de mandar interromper a escuta telefônica que autorizara no início do cerco da operação ao líder petista, Moro tornou público um diálogo em que a então presidente Dilma Rousseff tratou com Lula de sua posse como ministro da Casa Civil.
A divulgação do áudio de 1min35s incendiou o país e levou o Supremo Tribunal Federal a anular a posse de Lula, às vésperas da abertura do processo de impeachment e da deposição de Dilma. Para a Lava Jato, o telefonema mostrava que a nomeação de Lula como ministro tinha como objetivo travar as investigações sobre ele, transferindo seu caso de Curitiba para o STF.
Mas registros inéditos obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo e analisados em conjunto com o site The Intercept Brasil indicam que outras ligações interceptadas pela polícia naquele dia, mantidas em sigilo pelos investigadores, punham em xeque a hipótese adotada na época por Moro, que deixou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PSL).
O jornal Folha de S.Paulo teve acesso a anotações dos agentes que monitoraram Lula, com resumos de 22 conversas grampeadas após a interrupção da escuta em março de 2016. Elas foram gravadas porque as operadoras de telefonia demoraram a cumprir a ordem de Moro e o sistema usado pela PF continuou captando as ligações.
Os diálogos, que incluem conversas de Lula com políticos, sindicalistas e o então vice-presidente Michel Temer (MDB), revelam que o petista disse a diferentes interlocutores naquele dia que relutou em aceitar o convite de Dilma para ser ministro e só o aceitou após sofrer pressões de aliados.
O ex-presidente só mencionou as investigações em curso uma vez, para orientar um dos seus advogados a dizer aos jornalistas que o procurassem que o único efeito da nomeação seria mudar seu caso de jurisdição, graças à garantia de foro especial para ministros no Supremo.