Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 13 de julho de 2019
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O deputado Glauber Braga, do PSOL, teve seus 15 minutos de fama quando disse que o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro iria entrar na história do Brasil como juiz ladrão e parcial. Outros(as) deputados(as), na mesma sessão da Câmara, a maioria da esquerda, também desafinaram, exageraram na dose, e ao invés de uma intervenção bem fundamentada nos fatos – não faltava material para tanto – preferiram a arma duvidosa do insulto, que se usa em alta voz, cenho franzido e face crispada de uma suposta indignação.
Não perceberam ainda que o estado de exaltação, a fala estridente e o apelo à ofensa pessoal só favorece o “réu”, posição em que, nesse contexto, estava o ex-juiz. Ao interpelado, em tal circunstância, basta manter a calma, responder com firmeza, demonstrar domínio do seu ofício, dar razões plausíveis para um ato ou decisão, desconversar em pontos críticos e, eventualmente, simplesmente mentir.
Naquele formato de inquirição, o depoente sempre leva a melhor. Pode ser um ministro convocado, como Moro, ou na audiência de aprovação de diretores de agências estatais, de embaixadores e juízes dos tribunais superiores. A cara feia, o ar zangado, a gritaria, só fazem aumentar a vantagem do interpelado. A postura deve ser elevada, não a voz. Quando a regra é a ofensa, o ofendido pode, em resposta, protestar e exigir respeito e educação, e no limite, levantar e ir embora.
De novo: o material era farto para uma inquirição eficaz e inteligente. São páginas e páginas de gravações, de diálogos difíceis de serem explicados, se não for pelo lado de uma flagrante e deslavada parcialidade. Quando na outra ponta prevalece a tática da guerrilha verbal, a impressão que fica é a da falta de razões e argumentos.
O plenário lotado de interpelantes ansiosos para aparecer na tevê, mostrando bravura e indignação, mais uma vez beneficia o depoente. A maioria dos parlamentares faz longas (e manjadas) introduções ao assunto para aproveitar o palanque. Quando chega a vez do décimo da fila, a rigor não há mais perguntas a fazer e a sessão se torna dispersiva, predominando uma sensação de déjà-vu, de filme cujo final a gente já conhece.
Moro já tinha comparecido a uma audiência no Senado, a propósito dos vazamentos do The Intercept: conhecia bem os principais argumentos dos seus adversários – e tinha a resposta para tudo na ponta da língua. Deitou e rolou na tática de desqualificar as gravações, por ilegais, e de afirmar que mesmo que fossem verdadeiras, não havia nada de errado nelas.
O fato é que senadores e deputados perderam uma ocasião excelente de apontar contradições na conduta de Moro e da Lava-Jato. Por isso o sentimento de que ele, ao fim e ao cabo, se saiu bem. Mas, é claro, nesse embate ainda há muitos rounds: as revelações do The Intercept ganharam musculatura e força nas parcerias com a Folha de São Paulo e Veja. E consta que ainda há muitas páginas para serem vistas e revistas, entre as tantas que envolvem Moro e os principais personagens da Lava-Jato.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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