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Por Redação O Sul | 19 de março de 2020
Quando o governo holandês avisou, no último domingo (15), que restaurantes, bares e coffeeshops ficariam fechados pelo menos até 6 de abril, como medida de combate ao coronavírus, longas filas se formaram na porta da loja.
Os consumidores queriam fazer estoques antes das 18h, quando a medida de isolamento passaria a valer.
Mas não era corrida para comprar água ou macarrão, muito menos papel higiênico, como em outros países. Na Holanda, as filas eram para comprar maconha.
Coffeeshop é o nome que se dá aos lugares que até vendem café, mas têm na cannabis seu principal produto, sob regras no mínimo heterodoxas: vender maconha é proibido, mas a Holanda adota a “política da tolerância”.
As licenças de funcionamento são limitadas, cerca de 150 em todo o país, e podem ser cassadas a qualquer momento.
Para evitar esse risco, os coffeeshops devem vender no máximo 5 gramas de maconha por pessoa, nunca para menores de idade, e não podem ter mais do que 500 gramas no estabelecimento.
Esse limite de estoque é o que dificulta bastante a logística da coisa e provocou as longas filas aos domingos. Os cardápios dos coffeeshops incluem pelo menos dez tipos diferentes de erva, índica ou sativa, com mais ou menos THC (componente que altera a consciência), com mais ou menos CBD (componente terapêutico), solta ou já enrolada, pura ou misturada com tabaco.
Haxixe, resina derivada da mesma planta, também é vendida.
Com toda essa variedade, a quantidade máxima de cada tipo gira em torno de 50 gramas.
Se dez clientes comprarem o limite máximo, o dono da loja terá que repor rapidamente o fornecimento (comprando de um traficante ilegal, sob a tolerância do governo).
E, se normalmente já é preciso receber duas ou três entregas diárias dos tipos mais procurados (em Amsterdã, é a chamada de Amnésia), em dia de pânico as prateleiras se esvaziaram muito mais rapidamente.
Mas a abstinência holandesa durou pouco. Na terça (17), o governo voltou atrás e permitiu que os estabelecimentos retomem a venda, desde que o consumo seja feito em casa.
Um dos motivos da mudança, tomada após uma reunião entre prefeitos, polícia e Justiça, foi reprimir o tráfico ilegal. Segundo a imprensa holandesa, assim que a proibição começou a valer, estudantes começaram a receber mensagens com ofertas de maconha e traficantes surgiram às ruas para atender a demanda reprimida.