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Economia “A inflação é o pior dos impostos”

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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o economista Edmar Bacha. (Foto: Reprodução)

O Plano Real, que completará 30 anos em 1º de julho, tem o mérito de fazer com que os jovens da geração Z não tenham a mínima ideia do que é viver com uma hiperinflação. O economista e escritor Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, que começou a ser criado na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RIO), onde ele era professor, recorda como o real foi criado.

Ao olhar para trás, Bacha, que também participou do fracassado Plano Cruzado no controle da inflação, avalia que o Plano Real foi bem-sucedido em seu propósito. “O Plano Real foi bem-sucedido no propósito básico dele”, afirma o imortal, dono da cadeira 40 da Academia Brasileira de Letras (ABL).

O economista, contudo, reconhece que ainda não dá para ser otimista em relação ao Brasil, pois falta mais equidade tributária e uma maior abertura da economia. Bacha, que cunhou o termo Belíndia para definir o Brasil como uma junção da Bélgica, um país pequeno e rico, com a Índia, um país grande e pobre, afirma que “a Belíndia ainda está aí”.

Para Bacha, a inflação é o pior dos impostos, porque ele atinge as pessoas mais pobres, que não têm como se proteger. “Ele tinha que ir ao supermercado no dia que recebia, porque os preços subiam diariamente. Era um horror para os trabalhadores de uma maneira geral. E foi por isso que quando veio essa sensação de estabilidade, imediatamente a popularidade do Fernando Henrique nas pesquisas presidenciais disparou e ele venceu no primeiro turno”, relatou.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao jornal Correio Braziliense.

Balanço do plano

Junto com Gustavo Franco e Pedro Malan, Bacha lança, neste mês, o livro “30 anos do Real: crônicas no calor do momento”.

“Na verdade, o livro é um balanço do Plano Real. É um balanço peculiar, porque, como diz o subtítulo, são crônicas no calor do momento. Nós não estamos refletindo a partir de agora sobre o que ocorreu no passado, exceto no último capítulo. Mas mostrando como foram as nossas reações a cada cinco anos, em relação à evolução dos problemas que a economia brasileira enfrentou desde a introdução do real”.

Mudança de moeda

Na ditadura, teve dois planos fracassados. A discussão na PUC, no início dos anos 1980, era, justamente, em função do fracasso da ditadura em conseguir combater a inflação. O que ela conseguiu foi provocar uma grande recessão entre 1981 e 1983. Mas a inflação continuou a subir na transição da ditadura. Na democracia, estava saindo de 200% ao ano e me recordo que, quando a gente fez o Plano Cruzado, a inflação estava em 15% ao mês e perto de 500% ao ano. Então, estávamos buscando alternativas a essa metodologia da ditadura, que era basicamente aplicar o torniquete monetário, que estrangulava a capacidade das firmas de produzirem, e aplicar o arrocho salarial, que reduzia a demanda dos trabalhadores.

Foi nesse processo que se gestou, dentro da PUC, um conjunto de ideias, de alternativas. Uma das propostas, identificada com Francisco Lopes, era o choque heterodoxo, que foi aplicado com sucesso anteriormente em Israel. O plano era, fundamentalmente, um congelamento de preços e salários temporário para parar o processo da inércia inflacionária e, em seguida, depois de três meses, um pacto social em Israel para sair do congelamento sem explosão de preços. Lá, foi feito de maneira muito inteligente. Aqui a gente fez de uma maneira muito burra. Em vez de tomar o congelamento só como um mecanismo de parada súbita, mas não um mecanismo de estabilização, o congelamento virou a estabilização. E aí, quando tirou o congelamento da frente, a inflação mudou”.

Sucesso do Real

“Nesses 30 anos, o IPCA acumula alta de 708%, menos da metade da inflação em 1993… Podemos, sim, falar que o Plano Real deu certo. A inflação anual era de quase 3.000%, e, agora, está perto da meta, de 3%. Nem se compara.

O acerto foi que acabou com a inflação. Era a isso que ele se propunha. O Plano Real foi bem-sucedido no propósito básico dele. Durante quatro anos ele segurou a inflação na base da âncora cambial. E em 1999 foi introduzido o tripé econômico que está aí, em pé até hoje. E esse tripé só fraquejou durante algum tempo quando a (ex-presidente) Dilma Rousseff e seus assessores inventaram a Nova Matriz Macroeconômica que, basicamente, era uma licença para gastar, ocultando o resultado com pedaladas e controlando a inflação com o congelamento de preços de energia e petróleo. Acho que eles aprenderam essa lição: não dá pra brincar com a inflação”.

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