Quarta-feira, 01 de maio de 2024

Porto Alegre
Porto Alegre, BR
19°
Rain Shower

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Colunistas A terra é plana, a Ku Klux Klan e o nazismo são de esquerda!

Compartilhe esta notícia:

(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Um aluno fez a seguinte pergunta: como é possível que alguém sustente coisas como a terra é plana, o sol é que gira em torno da terra, a terra tem 5000 anos apenas, a KKK (Ku Klux Klan) é de esquerda, o nazismo era de esquerda, Marx corrigiu suas teses depois da Primeira Guerra Mundial, não existe aquecimento global porque continua nevando, Newton estava errado e coisas desse tipo, sem que isso cause um espanto enorme? Ao contrário de causar espanto, quem diz esse tipo de coisa faz sucesso e cria uma legião de adeptos. Por que isso é possível? Tem louco para tudo? Ou é um fenômeno contemporâneo?

Bom, respondi, charlatões, fabuladores e coisas do gênero sempre existiram. Mas, em tempos de facilitação do espalhamento da “boa nova”, tudo se tornou mais fácil. Platão já falava sobre esse problema, quando escreveu o Mito da Caverna. As sombras não são sombras, gritava o filósofo – que foi apedrejado pela malta encantada justamente pelas sombras.

Esse fenômeno se repete e se reproduz aos milhões nestes tempos de pós-verdades. Umberto Eco escreve sobre isso de forma magnifica. Comprei, agora, um livro com palestras feitas por ele há mais de 15 anos. Chama-se Aos Ombros de Gigantes. Há uma conferência chamada Absoluto e Relativo, em que Eco combate o relativismo.

Combate, ali, a tese nietzschiana de que não existem fatos, só interpretações. Ele diz: se não existissem fatos, mas apenas interpretações, então de que é que uma interpretação seria interpretação? E se as interpretações se interpretassem entre si mesmas, teria de ter existido um objeto ou um acontecimento inicial que nos impeliu a interpretar.

Deus pode até estar morto, mas Nietzsche não. Com que fundamento justificamos a presença de Nietzsche, pergunta Eco? Dizendo que ele é apenas uma metáfora? Mas, se o é, quem a pronuncia? Não só, mas também, se se falasse frequentemente da realidade por metáforas, para as elaborar seria necessário que existissem palavras que tivessem um significado literal e que denotassem coisas que conhecemos por experiência: não posso chamar “perna” ao suporte da mesa se não tenho uma noção não metafórica da perna humana, conhecendo a sua forma e função.

Se eu interpreto uma porta pintada na parede como uma porta verdadeira e tento cruzá-la, aquele fato que é a parede impenetrável deslegitimará a minha interpretação. A evidência daquela parede, que nos diz “não” quando nós queremos interpretá-la como se não existisse, será talvez um critério de verdade bastante modesto para os guardiões do absoluto, mas, parafraseando Keats, “isto é tudo aquilo que vós sabeis na terra e tudo aquilo que precisais de saber”.

Quando afirmo que não existe critério intersubjetivo, quando digo que não há teorias, que posso dizer qualquer coisa sobre qualquer coisa como o personagem Humpty Dumpty, esqueço ou ignoro que há coisas fora de mim que a isso se opõem.

Quando afirmo, complementa Eco, que, ao aplicar flogisto a uma inflamação não se consegue curá-la por essa combustão, ao passo que, recorrendo a antibióticos, sim, isto quer dizer que, portanto, existe uma teoria médica melhor do que a outra.

Bingo, Umberto Eco. Essa mesma crítica é feita por filósofos como MacIntyre, que luta contra o emotivismo, praga contemporânea que sustenta o opinionismo.

Nestes tempos de neo-caverna que é o WhatsApp (zapzap), nestes tempos de homo zapiens, o relativismo tem terreno fértil. O castigo virá no juízo final, quando Deus usará um novo critério para mandar o sujeito ao inferno ou ao céu: olhará o seu WhatsApp. E o pau vai comer! Ah, vai!

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Primeiras braçadas
De canibais e ladrões
https://www.osul.com.br/a-terra-e-plana-a-ku-klux-klan-e-o-nazismo-sao-de-esquerda/ A terra é plana, a Ku Klux Klan e o nazismo são de esquerda! 2019-02-09
Deixe seu comentário
Pode te interessar