Terça-feira, 10 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 21 de abril de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Semana passada – e por isso não escrevi minha coluna de O SUL – meu celular foi clonado por alguém que não deve ter mãe e o pai deve ser um proxeneta. Na verdade, clonaram a lista de WhatsApp e passaram a pedir dinheiro. Duas pessoas caíram no golpe. Além de ser desagradável, você fica uma semana sem uatsapi. Portanto, aqui vai um aviso de utilidade pública, que já fiz na Rádio Grenal e no Programa Pampa Debate. Amigo que é amigo não pede dinheiro por uatsapi. Se quer dinheiro, que ligue. Portanto, se um amigo seu de fato (sem ser o clonador) pedir dinheiro por uatsappi, rompa a amizade. Assim, você fica vacinado contra golpes. Pior: amigo que é amigo não pede dinheiro sábado a noite. Se for o próprio “amigo” e não o clonador, ele não é seu amigo. Não é, mesmo. Mande-o pastar. Ou diga coisas piores.
Uma semana sem o uats, descobri que o mundo já não se comunica por telefone e nem por e-mail. MSN? Nem falar. As pessoas só usam zapi zapi. E aconteceu uma coisa interessante: como houve o acréscimo do número 9, a maioria dos números não foi atualizada, pela simples razão de que o zapi zapi não precisa do nove à frente do número. Liguei para o Juremir Machado e ele, embora tivesse meu zapi, não atendeu. Liguei de novo e ele perguntou: quem é? Claro: o nome não aparecia. E assim por diante.
Passei a semana folgado. Poucos telefonam. Quase ninguém usa o velho MSN. E-mail? Só profissional. Falei por telefone longamente com o Marco Antônio Biernfild. Sempre nos comunicávamos por zapi. E descobrimos que temos belas vozes. E descobri a voz de muitas pessoas. Passei a usar o celular. Mesmo que alguns não me tinham indexado com o 9 a mais.
Refletindo sobre o modo de comunicação nestes tempos, chego a conclusão de que a humanidade não vai nada bem. Estamos economizando linguagem. Evitamos falar. Esquecemos uma lição básica que já estava em João, 1,1: no princípio era a palavra. Não está escrito “no princípio era o emoji” e nem “no princípio era o zapi zapi”. Fico pensando se João tivesse um I Phone 7. Teria apenas fotografado algumas árvores e postado no facebíblia. E a malta teria curtido e postado muitos emojis. Em compensação, Gabriel Garcia Marquez não teria escrito Cem Anos de Solidão, porque não teria a inspiração de João 1,1. Como ele trabalharia a questão da nominação? E como Platão teria falado do mito da caverna? Teria fotografado uma caverna e alguns patuleus com correntes e dito: olhem para a câmera que vai sair um flash. É a luz. E todos curtiriam no faceplat. Em compensação, não teríamos o livro Crátilo. E não teríamos o capitulo da Justeza dos Nomes. Putz. Vários emogis de choro. Talvez por isso hoje é possível trocar de nome. Basta ir no registro e dizer que agora você, João, quer ser chamado de Manoela. Novos emojis demonstrando espanto.
Bom, já contei aqui que o inventor dos emojis foi Jonathan Swift. Ele descobriu isso quando o personagem Gulliver foi visitar a academia de ciências da Lapúcia. Ali se discutia esse problema de hoje: falar muito faz mal. Porque as pessoas querem viver mais, falam menos. Em compensação ficarão burras. Entra um emoji de burro, com orelhas grandes.
Menos linguagem, menos mundo. Menos linguagem, mais orelhas grandes. Mais emojis, menos mundo. Com isso, o mundo ideal será onde não haverá linguagem. Só figurinhas. Como o paradoxo do queijo suíço: o melhor queijo é o suíço, que tem muitos furos; mais furos, menos queijo, melhor queijo. Moral da história: menos queijo, melhor queijo, o queijo ideal é o não queijo. Bingo. Vai um emoji de queijo furado.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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