Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 15 de junho de 2021
Golpistas estão contratando a plataforma de publicidade do Google para impulsionar sites falsos aos primeiros resultados de buscas relacionadas à quitação de dívidas e boletos.
Isso é possível porque, antes dos resultados ditos “orgânicos” – que dependem da relevância de cada página –, o Google mostra os links patrocinados por quem paga pelo destaque.
Pesquisar para “quitar boletos”, “limpar nome” e “pagar dívida” são alguns exemplos em que esses sites podem aparecer em meio a outras páginas legítimas de bancos e assessorias de cobrança, prejudicando usuários e empresas legítimas do setor.
Caso a vítima acesse o link oferecido, a página normalmente promete descontos para quitar dívidas ou boletos. Na maioria das vezes, é sugerido que a vítima inicie uma negociação por WhatsApp.
Durante a conversa pelo aplicativo, os golpistas pedem dados, como nome e CPF, e podem solicitar detalhes sobre os débitos pendentes. Em seguida, é oferecido um desconto e um boleto para o pagamento.
Se o boleto for pago, o dinheiro irá para a conta dos criminosos e as dívidas não serão pagas. Recuperar o dinheiro pode ser muito difícil, já que os valores poderão ser sacados já no dia seguinte.
Os golpistas muitas vezes prometem que o nome ficará limpo em 72 horas após o pagamento, permitindo que eles ganhem tempo para retirar o dinheiro do banco.
Adriano, que mora em Diadema (SP), enviou um e-mail ao blog contando que sua esposa foi vítima do golpe da quitação falsa.
No caso dele, os criminosos utilizaram um e-mail para divulgar o site falso, mas a negociação também ocorreu pelo WhatsApp informado na página.
“Eles pedem o CPF e aparece todas as nossas dívidas, tudo direitinho. Embaixo ele faz uma proposta mais barata, pouco menos que a metade do preço, para você quitar. Na hora, na inocência, a gente pensa que é verdade, porque é tudo direitinho, e acaba caindo”, relembra Adriano.
Segundo Paula Gasola, coordenadora da comissão de prevenção de fraudes da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), conferir o beneficiário do boleto é a dica mais importante para evitar essa fraude.
A informação completa sobre o beneficiário, como nome e CNPJ, deve aparecer durante a confirmação do pagamento do boleto. Na maioria das fraudes, os dados do beneficiário não vão corresponder a qualquer entidade legítima.
“O beneficiário será uma pessoa física ou uma pessoa jurídica que não é credora daquele débito”, explica Gasola.
Outro ingrediente essencial do golpe são as informações entregues pela própria vítima, como nome, CPF e dados da dívida. Com isso em mãos, o criminoso pode apresentar dados aparentemente legítimos sobre o débito.
“Nunca forneça seus dados em um link de WhatsApp ou através de um site que não é da instituição”, recomenda Gasola.
Desconfiar dos descontos oferecidos também pode ajudar. Em muitos casos, o consumidor pode conseguir qualquer desconto disponível negociando diretamente com a empresa credora.
Como os golpistas não se limitam aos descontos reais, eles normalmente farão ofertas incompatíveis com aquilo que os credores oferecem. Gasola recomenda que o consumidor busque a própria instituição, e não um intermediário, para se informar sobre possíveis descontos.
Baixa complexidade
Segundo o especialista em segurança Aldo Albuquerque, da Tempest Security Intelligence, este não é um golpe novo e nem é difícil de ser realizado do ponto de vista técnico.
Graças ao monitoramento de especialistas e do próprio Google, estas páginas não costumam ficar muito tempo no ar. Por isso, a evolução do golpe tem o objetivo de dificultar esse trabalho.
“Os criminosos têm preferido registrar domínios ou utilizar sites de hospedagem gratuita, pois isso aumenta a credibilidade do golpe perante as vítimas e em alguns casos ajudam na permanência do site fraudulento do ar por mais tempo”, revela Albuquerque.
Outra tática, que a Tempest vem observando desde o início da pandemia, é a divulgação de links diretos do WhatsApp. Nesse caso, não há uma página falsa – apenas o contato direto com o fraudador. Mais recentemente, esses links também começaram a aparecer em e-mails enviados em massa.
Como o WhatsApp já se tornou um meio legítimo de interação com prestadores de serviços e comerciantes, muitas vítimas acabam não suspeitando da fraude.
“Os fraudadores se aproveitam dessa tendência para se passar por estes canais oficiais e aumentam a credulidade do golpe”, explica o especialista.