Terça-feira, 08 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de janeiro de 2020
Dois estudos divulgados neste mês revelam novas conclusões sobre como o microbioma intestinal é capaz de apontar a presença de algumas doenças no corpo humano. Segundo essas pesquisas, os micróbios que habitam nosso intestino podem ser um parâmetro melhor do que os nossos próprios genes para diagnosticar certos males.
No primeiro estudo, cientistas da Universidade Harvard e do Instituto Weizmann de Ciência de Israel queriam descobrir qual é a melhor forma de identificar 13 doenças complexas no ser humano, como a esquizofrenia, a hipertensão e a asma, que são causadas tanto por fatores ambientais quanto genéticos. Para isso, eles compararam 47 pesquisas sobre a correlação entre as doenças e o genoma dos micróbios do nosso intestino e 24 estudos sobre a correlação entre esses mesmos males com os nossos genes e suas variantes.
Como resultado, os pesquisadores observaram que, quando a missão era diferenciar uma pessoa saudável de uma doente, a assinatura genética dos micróbios intestinais era 20% melhor do que os nossos genes. Além disso, o microbioma intestinal também foi 50% melhor em prever o câncer colorretal em alguém. Enquanto isso, nossos genes se destacaram apenas na previsão do diabetes tipo 1.
Em entrevista à revista Science, o biólogo computacional de Harvard e coautor do estudo, Braden Tierney, admitiu que as análises ainda estão no início e que esse tipo de estudo pode beneficiar muito o campo da saúde e seus pacientes.
Em contraponto, o pesquisador Jeroen Raes, do Centro de Microbiologia VIB-KU Leuven, afirma que ainda não conhecemos tanto sobre o microbioma intestinal como sabemos sobre os nossos genes. Comparações entre os dois métodos, segundo ele, podem ser arriscadas.
Ainda assim, ficar de olho nesse microbioma tem suas vantagens. Afinal, ao contrário dos genes, ele é mais impactado por fatores ambientais, como os nossos hábitos alimentares e o de se exercitar. Isso faz com ele seja muito promissor no diagnóstico de doenças como o diabetes tipo 2, por exemplo.
Mau presságio
No segundo estudo, realizado por pesquisadores de Finlândia, Estados Unidos e Reino Unido, o foco foi observar a relação entre o microbioma de uma pessoa e sua expectativa de vida.
Desde 1972, cientistas finlandeses estão coletando dados sobre a saúde de milhares de pessoas para a pesquisa. Em 2002, estes participantes doaram amostras de suas fezes, que foram sequenciadas 15 anos depois. Com base nisso, os pesquisadores observaram que as pessoas cujas amostras apresentavam uma grande quantidade de bactérias da família Enterobacteriaceae (que inclui bactérias como Escherichia coli and salmonella) tinham um risco 15% maior de morrer nos próximos 15 anos.
O que vale para ambos os estudos publicados recentemente é que ainda não está claro para os cientistas por que o microbioma está ligado a essas enfermidades e à nossa expectativa de vida. Talvez ele esteja atuando de forma negativa na nossa saúde, causando doenças e diminuindo o nosso tempo de vida; mas também é possível que esteja apenas refletindo tudo o que acontece no nosso corpo.