Quarta-feira, 10 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de maio de 2021
No segundo dia de depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello à CPI da Covid, nesta quinta-feira (20), a tropa de choque do governo federal protagonizou alguns bate-bocas com integrantes da comissão. O clima esquentou depois de o senador Marcos Rogério (DEM-RO) apresentar um vídeo com falas de governadores sobre a cloroquina, seguido por uma defesa do senador Flávio Bolsonaro em nome do irmão, Carlos Bolsonaro – cujo nome é frequentemente associado a um eventual “assessoramento paralelo” ao presidente Jair Bolsonaro em assuntos da pandemia.
“Completamente normal um filho conversar com o pai”, interrompeu Flávio, que não é membro da CPI. Tentando argumentar que não haveria tal “assessoramento paralelo”, o filho do presidente citou o nome do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que segundo Flávio fala “quase diariamente com Bolsonaro” e influenciaria o presidente. “Chama ele aqui e vê se ele influenciou em alguma coisa (de decisões sobre o combate à pandemia)”, desafiou Flávio. Marcos Rogério disse então que vai apresentar requerimento para chamar Malafaia à CPI.
Em seguida, a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) buscou rebater o vídeo apresentado por Marcos Rogério, mas foi interrompida pelo colega. “Vai vendo, Brasil”, dizia Marcos Rogério, que alega que os integrantes da CPI não querem investigar os governadores.
Parlamentares advertiram que as declarações dos cinco governadores sobre o uso da cloroquina foram gravadas no início de 2020, quando ainda não havia informações concretas sobre a eficácia do medicamento.
“Uma coisa que evolui com uma rapidez muito grande é a ciência. Isso aí foi em março de 2020. Em março de 2020, se eu tivesse contraído covid, eu tomaria também cloroquina porque era o que estava sendo prescrito”, disse o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), que precisou suspender a reunião em razão do bate-boca por dez minutos.
Pfizer
Questionado pelo vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o ex-ministro voltou a afirmar que o contrato com a empresa Pfizer para a compra de vacinas não foi assinado no ano passado por falta de autorização legal. Segundo Eduardo Pazuello, a farmacêutica norte-americana fez exigências consideradas “impeditivas” pela Advocacia-Geral da União (AGU) e pela Controladoria Geral da União (CGU).
“A Pfizer não fazia nenhuma vírgula de flexibilidade”, disse o ex-ministro.
Randolfe lembrou que uma minuta da Medida Provisória (MP) 1.026/2020, editada em janeiro deste ano, previa a autorização legal para a aquisição de vacinas. O dispositivo contava com o aval da AGU e da CGU. No entanto, quando o presidente Jair Bolsonaro enviou a MP ao Congresso, o artigo foi retirado do texto.
“Qual é a diferença da minuta para a medida provisória editada? É que a minuta não tem a assinatura do presidente da República. A medida provisória editada tem. Os ministros queriam. Foi alterado por uma única pessoa”, disse, em referência ao presidente Jair Bolsonaro.
Pazuello reafirmou à CPI da Pandemia nesta quinta-feira que o presidente Jair Bolsonaro não interferiu na gestão da pandemia enquanto ele esteve à frente da pasta. Segundo Pazuello, manifestações públicas do presidente sobre medidas sanitárias ou compra de vacinas eram feitas “de improviso” e não devem ser interpretadas como ordens.
“Nós sabemos como é o nosso presidente. Ele fala de pronto o que vem na cabeça, como ele pensa. E algumas coisas precisam ser corrigidas depois. Algumas coisas precisam ser reconversadas.”
No primeiro dia da sua audiência, Pazuello havia sido questionado sobre um pronunciamento de Bolsonaro contra a aquisição da vacina chinesa CoronaVac. O ex-ministro voltou ao tema nesta quinta e disse que o fato se tratou de uma “posição de internet” do presidente, mas não houve pressão sobre o ministério. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo e da Agência Senado.