Quarta-feira, 01 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2018
Ao menos 10,8 milhões de brasileiros dependem da renda de idosos aposentados para viver. Só no último ano, o número de residências em que mais de 75% da renda vem de aposentadorias cresceu 12%, de 5,1 milhões para 5,7 milhões. O levantamento considera domicílios onde moram ao menos uma pessoa que não é pensionista ou aposentada, e que abrigam um total de 16,9 milhões de pessoas, incluindo os próprios aposentados.
É o que revela o estudo feito pela LCA Consultores a pedido do jornal O Estado de S.Paulo, que publicou os dados neste sábado, demonstrando que essa dependência sempre foi mais forte nos Estados da Região Nordeste, que nos governos do PT viu benefícios como aposentadorias e Bolsa Família crescerem mais que a renda do trabalho.
O desemprego, no entanto, está levando mais lares, em outras regiões do País, à mesma situação. No Nordeste, a fatia da Previdência na renda das famílias passou de 19,9% em 2014 para 23,2% em 2017. No País, foi de 16,3% para 18,5%, aponta a consultoria Tendências. “À medida que o mercado de trabalho demora para se recuperar, as aposentadorias acabam ganhando espaço no orçamento familiar”, disse ao Estadão Cosmo Donato, economista da LCA e responsável pelo estudo.
Nos domicílios em que mais de 75% da renda vem da aposentadoria, o número de desempregados é quase o dobro da média do País. O metalúrgico aposentado Antonio Alves de Souza, de 72 anos, sustenta, com uma renda de R$ 3 mil, três filhos desempregados de 26, 32 e 36 anos. Eles não moram juntos, mas fazem todas as refeições e tomam banho na casa de Souza. Quando falta dinheiro para pagar as contas, também é ao pai que os três recorrem. “Se a renda fosse só para mim e para minha mulher dava para quebrar o galho, mas não tem jeito, tenho de ajudar porque eles não conseguem emprego.”
Esse não é um fenômeno exclusivo do Brasil. Na Espanha, no período mais agudo da recessão recente, economistas chegaram a chamar os idosos espanhóis de heróis silenciosos da crise, por bancarem financeiramente filhos e netos desempregados e evitarem, em certa medida, um colapso social.
Familiares chegaram a tirar aposentados de asilos para garantir uma renda. “No Brasil, os avós estão virando arrimo de família”, diz o médico Alexandre Kalache, especialista em longevidade. “Eles estão absorvendo o impacto do desemprego e da instabilidade econômica.”
A consequência, segundo Kalache, é perversa. “A geração que hoje depende dos pais pode ter dificuldade para se aposentar. Em breve, serão eles os idosos. E sem renda.”