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Por Redação O Sul | 25 de maio de 2020
Com taxas de inadimplência e evasão em alta, e projetos de lei que propõem redução do valor das mensalidades, 30% das instituições do ensino superior brasileiro podem fechar as portas até o final do ano. A projeção é do Semesp, entidade representante das mantenedoras do ensino superior no país, que apresentou nesta segunda-feira estudo sobre o impacto econômico da pandemia de Covid-19.
Segundo o Semesp, a taxa de inadimplência no ensino superior privado fechou o mês de abril com valor 72,4% maior do que o do mesmo período de 2019. Ficou em 26,3% no atual cenário de coronavírus, contra 15,3% em abril do ano passado, somando cursos presenciais e EAD.
“Mesmo os cursos EAD, que já eram à distância antes da pandemia e com mensalidades mais baixas, tiveram um crescimento importante da inadimplência”, diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp.
Separada por modalidade de ensino, a variação na taxa de inadimplência de abril de 2019 a abril deste ano chegou a 50% mais no EAD e 75,8% no ensino presencial. A pesquisa foi feita com 146 instituições de ensino superior privadas de pequeno, médio e grande porte no país.
“Assim como todos os setores, o de Ensino Superior foi bastante impactado”, afirma Capelato. “Sem políticas claras de sustentação do ensino superior privado, vamos retroceder muitos anos. E o preço disso para o país será alto a longo prazo”.
As instituições de grande porte, que reúnem mais de sete mil alunos, foram as que mais sofreram com a inadimplência. A taxa de evasão, mostra o estudo do Semesp, também começa a chamar a atenção, principalmente nas instituições de pequeno e médio porte.
O número de alunos que desistiram ou trancaram matrículas no mês de abril aumentou 32,5% entre os anos 2019 e 2020. Segundo a pesquisa, o crescimento foi motivado pela desistência dos alunos matriculados em cursos presenciais, em sua maioria, de ingressantes, ou seja, calouros do primeiro semestre deste ano. Já a taxa de evasão em cursos EAD se manteve praticamente estável.
“Apesar da retomada de ingressantes e da expectativa do início do ano, vemos que o grosso da evasão se dá com esses alunos novos. Eles entraram, se matricularam, as aulas começaram em março, e depois de 15 a 20 dias foram suspensas no modelo presencial e passaram a aulas remotas. Foi quando começou também a deterioração das rendas desses alunos e suas famílias, com perda de empregos, suspensão de contrato de trabalho”, explica Capelato.
Ele ressalta, porém, que o efeito da crise ainda se nota mais na inadimplência: “As pessoas ainda querem continuar estudando, e fazendo curso superior. Mas o dinheiro às vezes não permite que paguem a mensalidade”.
Prejuízo
As instituições, completa, já se ressentem da queda de receita. Segundo Capelato, nesse ritmo de crescimento de inadimplência e evasão, 21% das instituições já não conseguirão arcar com a folha de pagamento em junho.
E, a considerar a projeção para este ano, o Semesp estima que 39% das instituições do ensino superior vão amargar um prejuízo superior a 20% do total de suas receitas em 2020.
Nesta segunda-feira, o Ministério da Educação suspendeu o pagamento de parcelas do Fies por conta da pandemia. A medida vale para contratos em dia quando foi declarado estado de calamidade pública, em 20 de março.
Há duas semanas, o Senado aprovou um projeto que suspende o pagamento das parcelas do Fies até dezembro.
“Temos 6,6 milhões de alunos que estão sob responsabilidade do Ensino Superior privado, que emprega mais de 90 mil professores e funcionários administrativos. A continuidade dessa situação preocupante e de inadimplência pode ser muito complicada para a sustentabilidade das instituições de ensino”, alerta Capelato.
Ele defende a urgência de implantação de políticas de recuperação e sustentação das instituições:
“Um caminho é pela ampliação do Fies (o Fundo de Financiamento Estudantil), e outro com linhas do BNDES que capitalizem as instituições, para que elas possam avançar com financiamento próprio”.