Domingo, 14 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 22 de junho de 2016
Essenciais para a nossa vida, elas podem ser encontradas em um delicioso morango ou em uma crocante castanha. E também em uma cápsula colorida. As vitaminas estão entre os principais nutrientes consumidos sob a forma de suplementos, mas especialistas alertam: a qualidade da absorção de vitaminas em cápsulas não se compara à obtida por meio dos alimentos in natura. Para quem tem identificada a deficiência de algum nutriente ou barreiras para absorver a quantidade necessária por meio da alimentação, os comprimidos são um trunfo. Mas, sem necessidade, a suplementação tende a aumentar o risco de doenças cardiovasculares e cânceres.
No Brasil, 54% dos lares têm pelo menos um indivíduo que consome suplementos, segundo uma pesquisa recém-divulgada pela Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos Para Fins Especiais e Congêneres). Nessas casas, as vitaminas representam a maior fatia de consumo, com 48%, seguidas por minerais e suplementos extraídos de plantas, com 22% e 19%, respectivamente.
Para discutir o impacto desse comportamento no corpo e dissecar mitos e verdades relacionados ao tema, as nutricionistas Ana Luísa Faller e Annie Bello, autoras do livro “Nutrição e destoxificação”, destacaram que nem sempre mais é melhor. O excesso de nutrientes no organismo pode ser tóxico. E, por vezes, as mesmas vitaminas que trazem benefícios quando consumidas em forma de alimentos podem provocar danos quando em forma de suplementos. “Ingerir betacaroteno de frutas e legumes diminui o risco de doenças cardiovasculares, segundo estudos. Mas, quando esse nutriente é suplementado, pode aumentar o risco de câncer de pulmão. Outro exemplo é a vitamina E, encontrada em castanhas e sementes. Quem ingere naturalmente tem menor risco de doença coronariana, mas, como suplemento, pode aumentar o risco de derrame”, afirmou Annie.
Ela explicou que o corpo humano precisa de vitaminas em quantidades bem pequenas. Diferentemente dos carboidratos e das proteínas, que devem ser consumidos em gramas, as vitaminas são ingeridas em miligramas. Isto deveria tornar mais fácil a tarefa de consumi-las em quantidade suficiente, mas é cada vez mais comum as pessoas basearem sua dieta em alimentos como pães, biscoitos e massas, que não fornecem nenhuma das 13 vitaminas necessárias. Uma laranja, por exemplo, tem cerca de 70 miligramas de vitamina C – o que já é mais do que o dobro da ingestão diária recomendada desse nutriente, que é de 45 miligramas.
“Comida de verdade”.
“Temos que comer comida de verdade, que não tem rótulo, que estraga. Uma dieta de alimentos industrializados, apenas enriquecida com vitaminas, é um erro”, disse Annie, que lançará em breve o livro “Estilo de vida orgânico”.
Para o médico Cláudio Domênico, a potência do mercado de suplementos, que é milionário, acaba levando os consumidores a acreditar que esses produtos fazem bem a todas as pessoas. “Muitas vezes, tomar um suplemento só serve para a pessoa fazer um xixi mais caro”, disse ele. Ana Luísa destacou que é preciso cuidado também com os alimentos ditos “funcionais”. Para carregar esse título, o alimento tem que passar por uma série de estudos que comprovem sua capacidade de produzir um determinado efeito fisiológico, o que não ocorre com a maioria dos ingredientes que, no boca a boca, são classificados assim. Um exemplo disso, diz a nutricionista, é a goji berry, frutinha asiática que supostamente ajuda a emagrecer, reduz celulites e teria uma série de outros efeitos positivos. Para a nutricionista, as pessoas deveriam desconfiar de qualquer alimento que tenha uma lista muito extensa de benefícios. “Nenhum alimento é bom para tudo. A goji berry é muito popular, mas não há estudos comprovando seus benefícios”, destacou a especialista.
A profissional também explicou que, em geral, não vale a pena comprar suplementos prontos, vendidos de forma padronizada. Cada pessoa terá a necessidade de uma composição diferente para satisfazer suas eventuais carências nutricionais. Além disso, alguns suplementos prontos têm substâncias que não combinam: uma atrapalha a absorção da outra.
Os suplementos vitamínicos e minerais são considerados de baixo risco pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2010. Mas é consenso que não se deve tomar esses produtos sem a orientação de um nutricionista, seja para evitar desperdício de dinheiro ou para não prejudicar a saúde. (AG)