Terça-feira, 14 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 27 de dezembro de 2021
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) analisou o conteúdo de celulares de um delegado preso por corrupção, em junho. As mensagens de Maurício Demétrio, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, revelam que ele negociava o pagamento de propina para mudar o resultado de investigações. E que também usou a estrutura da polícia para tentar armar falsas operações.
No último dia 22, o MP deflagrou a segunda fase de uma operação em que o principal alvo é o delegado. Demétrio foi preso na primeira etapa da operação, acusado de chefiar uma quadrilha que ameaçava e cobrava propina de comerciantes da rua Teresa – tradicional ponto de comércio popular de roupas, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro.
Na época, a polícia encontrou no apartamento dele R$ 225 mil em dinheiro vivo, e três carros de luxo blindados, além de 12 celulares.
O conteúdo de alguns desses aparelhos revelou novos crimes e levou a novas acusações contra Demétrio. Até agora, apenas os conteúdos de dois ou três telefones foram analisados.
Entre os crimes praticados e revelados pelos aparelhos em poder dos promotores, Maurício cobrava propina para atrapalhar investigações da própria polícia, para não prender suspeitos, forjava provas e negociava dados pessoais de autoridades.
“Falei com os caras lá, o amigo lá de sábado, ele falou que já vai tirar a VTR de lá, tá? Vê aí, entendeu? Qual o tamanho a amizade”, diz Maurício em um dos áudios investigados e usando a palavra amizade para se referir a dinheiro.
“Pelo contexto que existe é um código utilizado por ele pra se referir a propina”, diz o promotor Bruno Gangoni, coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Em outro áudio, o delegado diz: “Eu falei 250 (mil), entendeu? O negócio é fechar, que aí a gente senta e vê uma fórmula. E não pede a prisão do cara, só indicia”.
A negociação não se restringia aos locais onde o delegado atuava. A investigação descobriu que Maurício Demétrio cobrava propina até mesmo em nome de delegacias nas quais ele não trabalhava.
“Se quiser fazer lá amizade, é pra fazer agora, entendeu? Tá resolvido. Se por acaso vier alguma ordem de MP, alguma coisa, eles avisam o que é”, diz sobre outra unidade policial.
“Agora, sapato total, né? Eu sei que tu não é de bobeira, mas avisa lá que não é pra ficar gritando aos quatro ventos que fechou arrego com a Draco”, diz em outro áudio sobre a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado.
Dados de autoridades
Com a nova fase da operação, o Ministério Público prendeu outro policial que atuava com Demétrio: Adriano Santiago da Rosa.
“O que se descobriu nessa nova fase da investigação foi que Maurício Demétrio utilizando-se de policiais sob a sua responsabilidade, inclusive Adriano, que foi denunciado nessa nova fase, fazia uso abusivo dos sistemas de consulta da Polícia Civil”, diz a promotora Juliana Amorim.
Na denúncia, os promotores afirmam que o delegado determinou que seu subordinado fizesse um levantamento ilegal de dados restritos de inúmeros cidadãos, entre eles autoridades e seus familiares.
Uma das vítimas foi o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador Luiz Zveiter e sua esposa.
Glauco Costa Santana, filho da promotora Gláucia Santana, atual chefe de gabinete do procurador-geral de Justiça do Rio, também deve dados levantados. As informações são do portal de notícias G1.