Quinta-feira, 24 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2021
O que era um sonho acabou virando um pesadelo. Com o desejo de empreender, o arquiteto Mauro Defferrari enxergou uma possibilidade de investir na praia de Punta del Diablo, no Uruguai, após ver os convites do governo uruguaio para investimento estrangeiro. Eram muitas ofertas, incluindo apoio estratégico e exonerações de impostos. Em 2008, Defferrari estruturou um projeto e apresentou a um grupo de empresários amigos que compraram a ideia: construir um conjunto de casas de praia , que também funcionariam como uma pousada.
A aposta foi em um local próximo à praia, mas Defferrari destacou que “a nossa segurança estava em não estarmos na faixa costeira, estávamos na segunda rambla. E nós fizemos todos os trâmites de prefeitura, aprovamos projeto e construímos”.
O projeto foi entregue no final de 2009 para funcionamento. Em abril de 2010, a pousada começou a operar. “Foi um sucesso, percebemos que a beira da praia tinha alguma estabilidade, estava tudo bem e seguimos”.
(Foto: Divulgação)
Porém, em 2014, mudou o governo e entraram outras abordagens políticas. Segundo o arquiteto, foi aberta uma rua atrás do empreendimento, o que gerou uma nova característica de desague, que não havia quando construíram a pousada. Essa mudança provocou um acidente de caráter ecológico, “isso gerou em uma noite, um represamento de água de chuva que transformou em uma enxurrada, foi o nosso primeiro acidente ecológico. Foi um arrastão de água e areia durante a madrugada que trancou todo o empreendimento. Essa foi a primeira vez que recorremos ao governo e a prefeitura, comunicando o que havia acontecido”, lembrou Defferari.
Ao longo desse período, de lá para cá, todos os anos passou a acontecer esses acidentes, devido a mudança de configuração da rua. Por outro lado, as dunas começaram a cobrir a pousada, a areia foi se alastrando, invadindo as frestas das janelas e portas. “Em algum momento de 2016 teve alguém que passou uma patrola nas dunas mais ao Sul. Aquilo abriu uma espécie de canal de vento que não havia antes, porque onde tem vegetação, o vento desvia, não forma duna, e alguém mexeu. Em 2017, foi só piorando”, contou o empreendedor. Conforme Defferrari, começou a juntar areia onde nunca havia juntado. Além disso, ele descobriu que existe um processo no Uruguai, no qual muitas das praias estão com o mesmo problema. Ainda, estavam entrando em uma rota de conflito profunda entre as prefeituras com o Ministério do Meio Ambiente.
(Foto: Divulgação)
“O ministério me solicitou e fizemos um projeto, me disseram que eu teria que pedir licença para tirar areias de dentro das minhas casas. Apesar de eu estar em uma rua, pagar impostos e tributos como IPTU, iluminação de rua, etc…, eu teria que pedir licença ao Ministério do Meio Ambiente para poder retirar essa areia. Enquanto a rua tinha uma certa acessibilidade, eu entrava com o caminhão e tirava a areia. Só que em 2018, começou a ficar tão grande a duna, em cima da rua, que eu não podia nem tirar mais a areia de dentro das minhas casas. Eu soube que isso era uma espécie de borda de conflito entre prefeituras e Ministério do Meio Ambiente”, relatou.
De acordo com Mauro Defferrari, a primeira rua até o mar, chamada de franja costeira, é responsabilidade do Estado Federal, e as demais são responsabilidade das prefeituras. “Nós viramos o mexilhão, entre o rochedo e o mar. Os uruguaios tem se queixado muito que o Ministério do Meio Ambiente fez das dunas uma espécie de vaca sagrada, ninguém pode mexer nas dunas”, ressaltou.
Desde 2019, a pousada funciona com 30% da capacidade, por ter quatro de suas seis unidades praticamente soterradas. Com a chegada da pandemia da Covid-19, o arquiteto não conseguiu mais se deslocar até Punta Del Diablo, para verificar o espaço de hospedagem. “É devastador, o vento sul fica jogando areia e juntando. E com o problema da pandemia, naquela região não tem máquinas, patrola, pá escavadeira. O que tem à disposição é do lado brasileiro, no Chuí, e eles não podiam ir lá e os que podiam, estavam trabalhando em outras coisas”, comentou.
A expectativa é que com o fim das restrições causadas pela doença da Covid-19, os empresários consigam ter um melhor diálogo com o Meio Ambiente. A partir daí, esperam que seja feito um acordo para que tudo volte como nos tempos de 2009, quando a promessa de desenvolvimento turístico da região era bem mais palpável.
Confira imagens do local: