Domingo, 07 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de abril de 2021
Não é verdade que a CoronaVac esteja se mostrando ineficaz na prática e que cientistas tenham determinado a aplicação de uma terceira dose do imunizante para proteger a população contra a covid-19. A alegação falsa sobre a vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac aparece em um vídeo divulgado por uma página bolsonarista, que teve mais de 260 mil visualizações no Facebook.
Em uma gravação de sete minutos, um homem que responde por uma página chamada “Fala Miranda” insinua que um diretor médico do Butantan teria admitido que a vacina com duas doses poderia não fazer efeito — o que não é verdade. Em seguida, faz outras afirmações infundadas, como a de que a CoronaVac teria menos de 50% de eficácia e não estaria comprovada cientificamente.
Ao contrário do que sugere a peça de desinformação, o imunizante teve eficácia e segurança comprovadas por meio de uma série de etapas rigorosas de ensaios clínicos com milhares de voluntários. Esses dados foram referendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que concedeu a aprovação para uso emergencial no Brasil ainda em janeiro deste ano.
O vídeo viral distorce uma entrevista do diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, concedida para a rede de televisão CNN Brasil, em 11 de abril. O pesquisador comentava sobre novos dados preliminares que apontam que a eficácia da CoronaVac é maior quando a segunda dose é aplicada com intervalo superior a 21 dias, chegando a 62,3%.
Questionado por jornalistas da emissora sobre formas de aumentar essa taxa, Palacios responde que o Butantan estuda a possibilidade de aplicar uma dose de reforço, seja com a própria CoronaVac ou com outros imunizantes, mas que isso depende de pesquisas prévias. Ele diz que a situação é comum em produtos com vírus inativado e deixa claro que não existem estudos sustentando uma recomendação de terceira dose neste momento.
Nas redes sociais, o Instituto Butantan também desmentiu a informação de que estaria recomendando uma dose extra. “O Butantan esclarece que não será necessária uma 3ª dose da vacina contra a covid-19”, escreveu no Twitter. “A CoronaVac é segura e eficaz após o ciclo de duas doses e mais 15 dias, conforme apontam vários estudos.”
“O que o Butantan estuda é atualização da vacina, com a possibilidade de, no próximo ano, aplicar uma outra dose, em razão das novas cepas e da evolução da doença, como ocorre com a vacina da Influenza”, acrescenta em nota. Palacios não fala, em nenhum momento da entrevista, que a vacina não estaria funcionando na prática.
Desenvolvimento
Todas as vacinas aprovadas pelos órgãos regulatórios passam por uma sequência de etapas rigorosas de testes. O desenvolvimento do imunizante começa em laboratório, passa por testes em animais e depois o produto é colocado à prova em ensaios clínicos com milhares de pessoas, que envolvem três fases distintas e ampliam gradualmente o número de voluntários, as faixas etárias e os quadros prévios de saúde.
A chamada fase 3 da pesquisa com a CoronaVac contou com 12,4 mil voluntários no Brasil. Todos eram profissionais da saúde, com risco mais alto e contínuo de exposição ao coronavírus. Metade do grupo tomou o imunizante, e a outra metade, placebo.
Eles são monitorados constantemente e orientados para relatar qualquer tipo de efeito adverso. Após a incidência de uma quantidade de casos de covid-19 predeterminada, os dados são abertos e comparados entre os grupos para calcular a eficácia do imunizante.
Os resultados dessa etapa final de pesquisa foram divulgados pelo Instituto Butantan em 12 de janeiro de 2021. O estudo demonstrou, primeiramente, que a vacina é segura, pois nenhuma reação adversa grave foi constatada entre os participantes. Além disso, os pesquisadores observaram que, de um universo de 252 infectados, 167 estavam no grupo placebo e 85 haviam sido vacinados.
O Instituto Butantan comparou essa relação de contaminados e o tempo de exposição ao risco de contrair o vírus para determinar a eficácia global de 50,38% — número superior ao patamar de 50% recomendado pela Organização Mundial da Saúde e suficiente para que a CoronaVac fosse introduzida no Plano Nacional de Imunização.
Boatos na internet ignoraram a metodologia prevista no protocolo de pesquisa da CoronaVac para contestar os números, dizendo que ela seria de 49,69%. Essa afirmação é falsa, porque desconsidera a variável de tempo de exposição ao risco citada anteriormente.