Domingo, 14 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de julho de 2019
“Se assumir a embaixada do Brasil em Washington (EUA), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) será um representante do pai, e não do Brasil”. Essa é a avaliação do americano Peter Hakim, que estuda a América Latina há mais de três décadas e é presidente emérito do think tank Inter-American Dialogue, sediado em Washington. Questionado por jornalistas, Eduardo disse que aceitará a indicação de seu pai, o presidente da República Jair Bolsonaro.
Bolsonaro – o pai – destacou que o filho domina outros idiomas e que é amigo dos filhos do presidente americano, Donald Trump. “O meu filho Eduardo, ele fala inglês, fala espanhol, há muito tempo roda o mundo todo. E goza da amizade dos filhos do presidente Donald Trump.”
Na sexta-feira (12), Eduardo Bolsonaro disse que fez intercâmbio e que aprimorou o inglês e fritou hambúrguer nos Estados Unidos. “Não sou um filho de deputado que está do nada vindo a ser alçado a essa condição. Tem muito trabalho sendo feito, sou presidente da Comissão de Relações Exteriores, tenho uma vivência pelo mundo, já fiz intercâmbio, já fritei hambúrguer lá nos Estados Unidos.”
Chanceler
Hakim disse que Eduardo Bolsonaro pode ficar “um pouco isolado” do meio diplomático e aponta que o esperado de um embaixador é representar não apenas o presidente da República, mas o conjunto de instituições de um país. “Ele será um representante do pai dele e não do país”, destacou Hakim. “Um país é mais que a Casa Branca ou o Palácio do Planalto. Há o Congresso, governadores…”.
Para Hakim, a indicação também expõe Bolsonaro, devido às críticas de nepotismo – acusação que os integrantes do governo negam. “O jovem Bolsonaro não tem experiência e treinamento para ser embaixador nos Estados Unidos”, avaliou Hakim.
O professor de Relações Internacionais Oliver Stuenkel, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), disse que o movimento “obviamente afeta a reputação do país”. “É uma notícia muito ruim para a maneira como o Brasil é visto. O fato de o presidente colocar seu próprio filho é uma coisa meio de República das Bananas”, afirmou.
Stuenkel destaca que, se Eduardo assumir o posto, o fato de o embaixador em Washington ser mais próximo do presidente que o próprio chanceler, Ernesto Araújo, representa uma perda de poder para o ministro. “A única maneira de ler isso é que Eduardo Bolsonaro vira chanceler de fato. O novo centro de poder da articulação nessa área ficaria em Washington. O Ernesto já está frágil, mas isso o fragiliza mais ainda.”