Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2022
Os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho brasileiro revelam um cenário que pode parecer contraditório à primeira vista: um aumento na proporção de pessoas trabalhando, mas com salários menores — além de um recorde de trabalhadores sem carteira assinada.
A taxa de desemprego de 9,3%, registrada no trimestre de abril a junho de 2022, é a mais baixa para o segundo trimestre desde 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comércio, construção civil, serviços domésticos e outros serviços estão entre as áreas que respondem por maior criação de ocupações.
Veja a lista:
-Alojamento e alimentação (23,1%, ou mais 1 milhão de pessoas)
-Serviços domésticos (18,7%, ou mais 931 mil pessoas)
-Outros serviços* (18,7%, ou mais 805 mil pessoas)
-Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (14,2%, ou mais 2,4 milhões de pessoas)
-Construção (11,2%, ou mais 753 mil pessoas)
-Indústria geral (10,2%, ou mais 1,2 milhão de pessoas)
-Transporte, armazenagem e correio (10%, ou mais 463 mil pessoas)
-Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (5,5%, ou mais 893 mil pessoas)
-Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,1%, ou mais 568 mil pessoas)
*Serviços artísticos, culturais, esportivos e recreativos; serviços pessoais, de manutenção e reparos de equipamentos e de objetos pessoais e domésticos.
**Os demais grupos de atividades não tiveram variações significativas, segundo o IBGE
Informalidade
É importante lembrar que os dados de ocupação do IBGE não consideram apenas os empregos formais (com carteira assinada), mas também os trabalhos informais. Entre os trabalhadores por conta própria (os também chamados autônomos), considera tanto aqueles com CNPJ quanto sem.
Bráulio Borges, economista-sênior da consultoria LCA e pesquisador-associado do FGV IBRE, destacou que, “olhando só o número de pessoas ocupadas, há sete anos que a gente não observa o mercado de trabalho brasileiro em uma situação tão favorável”. No entanto, ele acrescentou que uma análise mais detalhada mostra que “não é uma situação assim tão boa”, em referência a aspectos como a queda de 5,1% no rendimento médio real (R$ 2.652) em relação a igual período do ano anterior.
Também chama atenção o número recorde de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado (13 milhões), o maior da série. O aumento foi de 23% na comparação com igual período do ano anterior — bem maior que a alta de 11,5% do número de empregados com carteira assinada no mesmo período.
Salário menor
O economista ressalta que o PIB brasileiro está sendo muito puxado neste ano e desde o final do ano passado por alguns segmentos que demandam muita mão de obra, principalmente os de serviços domésticos e construção civil”.
Isso também ajuda a explicar a queda nos salários reais. “Esses setores demandam muita mão de obra, mas, ao mesmo tempo, pagam salários baixos, geralmente pouco acima do salário mínimo, e isso ajuda a entender um pouco outro aspecto: os salários reais estão caindo também”, diz Borges.
A pesquisadora do Ipea, Maria Andreia Lameiras, considera ainda “natural” a força do emprego informal neste momento, visto que foi o que mais sofreu na pandemia e destaca que o setor de serviços, que puxa o crescimento “é um setor realmente intensivo em mão de obra informal”.
Borges acredita que o Brasil terminará 2023 com um crescimento em torno de 2% e um desemprego na casa dos 9%, mas diz que o quadro é mais incerto para o próximo ano.
“Muitas dessas medidas que o governo está usando para impulsionar o PIB neste ano têm vida curta. Elas vão antecipar consumo e antecipar PIB para este ano e, entre aspas, roubar isso do ano que vem. E aí obviamente que isso acaba impactando o mercado de trabalho negativamente ao longo de 2023”.