Terça-feira, 21 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 28 de julho de 2017
A Justiça da Espanha negou o pedido brasileiro para extraditar o ex-advogado da Odebrecht, Rodrigo Tacla Duran, que havia sido detido em Madri em novembro de 2016. A recusa foi embasada na decisão do Brasil em não garantir, por escrito, que entregaria para a Espanha outros suspeitos no País, com dupla nacionalidade.
Sem a garantia de uma reciprocidade, a Justiça espanhola optou por não entregar Tacla Duran. A decisão foi tomada por unanimidade pelos 17 membros do tribunal espanhol. Duran, que possui dupla nacionalidade, recorreu para evitar ter de responder aos crimes no Brasil. Ele deverá ser julgado em solo espanhol. Duran é apontado como um dos operadores das offshores criadas pelo departamento de propinas da empresa Odebrecht e teria recebido R$ 54 milhões de empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato.
Do lado de Madri, existe um compromisso de que, baseado nos documentos enviados pelo Brasil, Tacla Duran será julgado. Em uma entrevista publicada recentemente pelo jornal El País, da Espanha, o suspeito conta como a Odebrecht lhe ofereceu 15 anos de salários se ele aceitasse delatar.
Ele revelou que a construtora brasileira distribuiu propinas para mais de mil pessoas em diversos países do mundo e descreveu os bastidores de prostituição para convencer políticos a dar contratos para a empresa brasileira.
Tacla Duran, que passou menos de três meses preso, hoje aguarda seu julgamento em liberdade provisória. O Ministério Público brasileiro argumentava que Tacla Duran havia sido responsável por lavar mais de 50 milhões de dólares.
Delação
O advogado, que colabora com a Justiça norte-americana, disse ter rejeitado a oferta da Odebrecht para fechar um acordo de delação premiada. “Os promotores do Brasil querem que eu reconheça crimes que não cometi”, afirmou. Segundo ele, a empresa pagava propinas do funcionário mais baixo da administração até presidentes e chefes de governo. No caso do Brasil, ele garantiu que era a Odebrecht quem “sugeria as obras que seriam incluídas nos planos do governo”.
O acordo, segundo o acusado, passava por João Santana, marqueteiro das campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (2006) e Dilma Rousseff (2010 e 2014).
Sobre propinas no exterior, ele garante que a Odebrecht “também organizava festas”. “Mandavam mulheres do Brasil para festas com políticos. Mas isso também se tornou uma chantagem”, contou, revelando que sempre “havia alguém para fotografar cenas comprometedoras”.
A Odebrecht divulgou nota em resposta às declarações de Tacla Duran, indicando que ele jamais atuou como advogado em qualquer empresa do Grupo Odebrecht.
Conforme a empreiteira, ele foi um operador financeiro “que teve participação em atividades ilícitas já informadas pela Odebrecht às autoridades em seu processo de colaboração”. (AE)