Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de setembro de 2015
Controverso desde a primeira exibição pública no Festival de Cannes, em maio, o filme “Love”, do cineasta argentino Gaspar Noé, estreou no Brasil envolto em polêmica. Por conter cenas de sexo explícito em 3D, poucas salas abriram suas portas para o longa, e as que fizeram, restringiram os horários por causa da classificação indicativa. A situação levanta a questão discutida nos outros países onde a produção estreou, deixando claro que, mesmo na era da internet, com pornografia gratuita ao alcance de um clique, cenas de sexo no cinema ainda chocam.
De acordo com a produtora Imovision, responsável pela distribuição do título no País, a expectativa era fazer a pré-estreia em 300 locais de exibição, mas apenas 45 toparam, sendo que três cancelaram sem darem explicações. “Alguns exibidores não toparam e, daqueles que podiam topar, alguns desistiram. Sinceramente, não entendi. Devem ter motivos diferentes”, informou Jean-Thomas Bernardini , fundador da Imovision.
Na França, a polêmica aconteceu em torno da classificação indicativa. O Ministério da Cultura havia liberado a exibição para maiores de 16 anos, mas a Justiça derrubou a determinação, atendendo ação movida por um grupo de extrema-direita, e proibiu o filme para menores de 18 anos. Para o cineasta, o burburinho em torno de sua obra, em tempos de internet, não faz qualquer sentido. “Para ser honesto, eu estou surpreso com o debate que foi colocado”, expôs Noé. “Há mais de 20 anos que alguns filmes fazem representações inteligentes do sexo, com cenas de ereção e penetração. Existem livros que abordam o sexo explicitamente nas livrarias e um oceano de pornografia e violência na internet. Em face disso, as discussões sobre o ‘Love’ me parecem completamente retrógradas.”
Tabu.
Cineastas e especialistas em sexualidade humana concordam com Noé. Alfredo Romero, diretor do Instituto Brasileiro para Saúde Sexual, destaca que o tabu imposto ao sexo só prejudica a disseminação de informações. Hoje, crianças e adolescentes têm nas mãos acesso a um volume imensurável de imagens e vídeos pornográficos, o que não acontecia há alguns anos. E por ser apresentador de um programa de rádio sobre o tema, o sexólogo tem notado um aumento no número de perguntas feitas por menores de idade.
“Eles querem saber como evitar a gravidez, como fazer sexo anal, estimular melhor a parceira. A sexualidade está neles muito antes dos 18 ou 16 anos”, afirma Romero. “O sexo é inato, nasce com a pessoa, se desenvolve ao longo do tempo e aflora como uma necessidade biológica. Com conhecimento, são maiores as chances de meninos e meninas desenvolverem uma sexualidade responsável.”
“Love” conta a história de um triângulo amoroso entre um homem (Murphy, vivido por Karl Glusman) e duas mulheres (Electrae Omi, Aomi Muyock e Klara Kristin, respectivamente), recheado de cenas de sexo explícito. No Brasil, o filme recebeu classificação indicativa para maiores de 18 anos. O relatório técnico do Dejus (Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação), ligado ao Ministério da Justiça, destaca que as “inadequações de sexo e nudez são as mais presentes e relevantes no longa-metragem”.
“Já na primeira cena, é apresentada uma situação de sexo explícito, com o protagonista e Omi deitados na cama nus masturbando um ao outro até o momento do orgasmo dele”, diz o relatório. “Em geral, as cenas que apresentam inadequações são longas e não há preocupação em atenuar o impacto imagético dos atos, pelo contrário, em alguns momentos recursos são utilizados para dar mais força a algumas imagens, como quando o momento da ejaculação é visto em close e o sêmen é expelido em direção à câmera”. (AG)