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Por Redação O Sul | 10 de outubro de 2019
Um posto de fiscalização da Funai (Fundação Nacional do Índio) dentro da terra Karipuna, em Rondônia, está destruído e virou símbolo da ação de madeireiros e grileiros. O território indígena onde o imóvel foi atacado é o mais ameaçado por queimadas no Brasil – tem o maior número de focos ao redor da terra. Lá praticamente não havia desmatamento até 2014, mas, desde então, mais de 20 km² de floresta foram derrubados.
O imóvel, que deveria ajudar a evitar ataques criminosos, foi construído por uma empresa como ação de compensação ambiental. Entregue em 2016, custou R$ 750 mil, mas quase não foi usado. Os karipuna e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) dizem que fiscais chegaram a trabalhar nos primeiros meses daquele ano no posto. Mas os recursos secaram, e o prédio ficou abandonado.
Ainda em 2016 começaram os ataques: o gerador de energia foi o primeiro item furtado. De acordo com os índios, agentes da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) foram os primeiros a ver a destruição do prédio. Foram eles que avisaram a aldeia sobre a situação.
Segundo o indígena Batiti Karipuna, o prédio já havia sido queimado e depredado, mas a vegetação ao redor ainda estava preservada. Com o aumento do desmatamento nos anos de 2017 e 2018, a floresta ao redor também foi reduzida.
Nestes três anos de abandono, as etapas da destruição do posto são desconhecidas pelos indígenas. Em alguns relatos, citam o verão de 2017 como referência. Dos ataques às portas, aos forros e às janelas, nenhuma pista ficou para trás, e os habitantes da aldeia só percebiam rastros nas trilhas. Hoje, os invasores que tentam tomar o território espalham troncos nas estradinhas de terra para evitar o acesso ao que restou da base.
O posto está a 12 quilômetros da aldeia, em um ponto estratégico perto de estradas e de fazendas. No imóvel, os fiscais tinham escritórios e um mirante para observação.
A estrutura foi doada pela Santo Antônio Energia como contrapartida pela construção da usina Santo Antônio, no Rio Madeira, em Porto Velho. A empresa diz que discutiu a localização com o povo e também com a Funai.
Além da sede, o posto tinha casa do gerador de energia, rampa para lavagem de veículos, caixa d’água com poço tubular, redário, garagem com oficina, gerador, mobília e equipamentos.
Em fevereiro de 2018, o Cimi e o Greenpeace denunciaram a depredação do prédio para o Ministério Público Federal. Os promotores dizem que o caso não foi levado à Justiça porque os suspeitos não foram identificados.
A reportagem procurou a Funai e o Ministério do Meio Ambiente para comentarem a situação. A Funai disse que buscaria informações, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. O ministério não deu retorno.
Karipuna x queimadas
Os karipuna têm o território mais ameaçado do Brasil quando o quesito é o número de focos em um raio de até 5 quilômetros da demarcação. Quando o critério é queimada dentro da área, a terra está entre as 20 com mais queimadas no Brasil.
O território abrange parte de Porto Velho e de Nova Mamoré. No caminho até a aldeia, pasto e gado dominam a paisagem. A floresta aparece só depois da ponte do igarapé Fortaleza, ponto de entrada na terra indígena.
Dentro da área, toras de árvores derrubadas impedem a passagem nos ramais (estradas de terra). Clarões sem vegetação se destacam entre os caminhos e, muitas vezes, o que era floresta já virou carvão. O desmatamento e grilagem ficaram mais intensos a partir de 2016, mesmo ano de criação do prédio da Funai.
Desafio de resistir
A presença da fiscalização constante da Funai reforçaria uma luta que hoje é travada por um grupo pequeno. São 58 karipunas vivos, mas apenas 22 frequentam a aldeia.
Entre os 22, pelo menos 10 não estão permanentemente no território: estão casados com brancos, trabalham fora e se articulam para fazer denúncias a órgãos diversos. Poucos homens se revezam em estratégias para proteção dentro da aldeia.
Recentemente, um novo acampamento de invasores foi destruído por Batiti Karipuna. A estrutura foi encontrada a 5 quilômetros da aldeia. O indígena queimou o material e levou o fogão nas costas mata a dentro.
Na terra karipuna, as queimadas são consequência de três fatores: invasões, desmate e grilagem. Mais velho indígena da tribo, com idade estimada pela Funai em 72 anos, Aripã Karipuna diz não ter medo dos madeireiros porque eles desmatam e, depois de um tempo, a floresta volta a crescer. O líder afirma que agora a floresta sofre mais por causa da negociação ilegal de lotes, que deram espaço para o fogo e para o pasto. As informações são do portal G1.