Segunda-feira, 30 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de novembro de 2020
As empresas farmacêuticas Pfizer e BioNTech anunciaram que sua vacina contra a covid-19, uma daquelas que estão sendo testadas já em fase 3, é capaz de prevenir que mais de 90% das pessoas desenvolvam a doença.
Na segunda-feira (9), as companhias afirmaram que a notícia representa um “grande dia para a ciência e para a humanidade”.
A vacina foi testada em 43,5 mil pessoas de seis países e, em setembro, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou que seus testes clínicos fossem ampliados no Brasil, de mil para dois mil testes em voluntários.
Segundo as fabricantes, nenhum problema de segurança na vacina foi levantado até o momento.
O anúncio provocou uma alta no mercado de ações, diante de uma possível melhora na pandemia. As ações da Pfizer subiram 14% depois da notícia.
Como funciona
A maioria das vacinas que usamos envolve injetar um vírus ou bactéria no nosso corpo para que o sistema imunológico identifique a ameaça e crie formas de nos defender.
No caso dos vírus, eles podem estar enfraquecidos (sua capacidade de nos deixar doentes foi reduzida a níveis seguros) ou inativados (são incapazes de se reproduzir) — faz parte deste segundo tipo a CoronaVac — em setembro, o governo de São Paulo anunciou que testes com 50 mil pessoas demonstraram que a vacina é segura.
Há também as chamadas vacinas de subunidades, em que apenas fragmentos característicos de um vírus, como uma proteína, por exemplo, são produzidos em laboratório e purificados para serem usados na vacina.
A proposta das vacinas gênicas, como essa anunciada pela Pfizer, é diferente. Em vez de injetar em nós um vírus ou parte dele, a ideia é fazer o nosso próprio corpo produzir a proteína do vírus.
Para isso, os cientistas identificam a parte do código genético viral que carrega as instruções para a fabricação dessa proteína e a injetam em nós.
Uma vez absorvido por nossas células, ele funciona como um manual de instruções para a produção da proteína do vírus.
A célula fabrica essa proteína e a exibe em sua superfície ou a libera na corrente sanguínea, o que alerta o sistema imune.
As vantagens das vacinas gênicas
A imunologista Cristina Bonorino explica que, no caso das vacinas atenuadas ou inativadas, é preciso cultivar uma grande quantidade de vírus para usá-los como matéria prima.
As vacinas gênicas dispensam isso. Basta criar em laboratório só a sequência genética desejada.
Isso exige uma estrutura de produção muito mais enxuta. “O custo também é provavelmente menor”, diz Bonorino, que é professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia.
Márjori Dulcine, diretora-médica da Pfizer Brasil, explica que, além de esse tipo de vacina ser produzida mais rapidamente em grande escala, ela também é flexível.
“Sabemos que o Sars-Cov-2 tem uma grande capacidade de sofrer mutações. Então, se isso ocorrer, podemos rapidamente adaptar”, diz Dulcine.
As vacinas gênicas também eliminam o risco de uma pessoa ficar doente ao ser vacinada, o que pode ocorrer quando são usados os vírus atenuados.
Os vírus neste estado foram manipulados para serem menos perigosos, mas ainda assim eles conseguem se reproduzir lentamente.
Isso dá tempo suficiente para que o sistema imunológico de uma pessoa saudável reaja e, neste processo, aprenda a combater essa ameaça.
Mas, em casos mais raros, se o paciente é imunocomprometido, ele pode perder essa corrida contra o vírus, e a pessoa fica doente.
“Com esse tipo de vacina, não tem isso, porque ela não usa um micro-organismo vivo. É completamente sintética”, diz Norbert Pardi, da Universidade da Pensilvânia.
O tempo necessário para desenvolver uma vacina também cai drasticamente.
Normalmente, leva-se meses para ter uma pronta para os primeiros testes. Com a vacinas gênicas, demora semanas.
“A Moderna levou 42 dias do momento em que recebeu a sequência genética do vírus até começar os estudos da vacina contra a covid-19. Isso é quase impossível com outras tecnologias”, afirma Pardi.
O cientista diz ainda que os testes mostraram até agora que as vacinas gênicas contra a covid-19 geraram uma reação do sistema imunológico ao menos tão boa quanto a das outras candidatas.
“Então, elas não são apenas mais seguras e relativamente baratas de produzir, mas bastante eficazes. Isso é muito importante.”