Sexta-feira, 25 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2020
Existem no mundo sete espécies conhecidas de tartarugas marinhas, todas ameaçadas de extinção. E a ameaça humana contra esses animais começa antes do nascimento: os ovos são cobiçados, considerados iguarias com propriedades afrodisíacas.
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade de Kent, no Reino Unido, em parceria com a ONG Paso Pacifico, na Costa Rica, criaram ovos falsos, impressos em 3D, com GPS para rastrear os saqueadores.
“Nossa pesquisa demonstrou que colocar uma isca no ninho das tartarugas não prejudica a encubação dos embriões e que a ideia funciona”, afirmou Helen Pheasey, da Universidade de Kent, líder do estudo publicado nesta semana na revista Current Biology.
Helen e seus colegas colocaram ovos falsos em 101 ninhos espalhados por quatro praias na Costa Rica. Um quarto das iscas foram levadas ilegalmente por saqueadores e, em cinco casos, foi possível rastrear todo o percurso dos ovos roubados.
Um dos ovos falsos foi levado até uma residência próxima antes de ser silenciado. Outro foi carregado por dois quilômetros até um bar. O que foi mais longe percorreu 137 quilômetros, passando dois dias em trânsito da praia até um supermercado, e depois para uma residência.
“Nós mostramos que é possível rastrear ovos removidos ilegalmente desde a praia até o consumidor final, como demonstrado por nosso mais longo rastreio, que identificou toda a cadeia ilegal cobrindo 137 quilômetros”, explicou a pesquisadora.
Num dos casos, o sinal do GPS foi perdido numa residência a 43 quilômetros do ninho. 11 dias depois, a ONG recebeu fotos do ovo aberto, com informações sobre onde ele foi comprado. Para os pesquisadores, isso mostra que já há engajamento da comunidade local no projeto.
Inspiração em Breaking Bad
Kim Williams-Guillen, da Paso Pacifico, explicou que a inspiração para o projeto veio dos seriados Breaking Bad e The Wire, sobre o tráfico de drogas. “Em Breaking Bad, o departamento de narcóticos coloca um dispositivo GPS num tanque de produtos químicos para saber quem é o receptor”, contou Kim. “Num episódio de The Wire, dois policiais plantam uma escuta numa bola de tênis. Os ovos de tartaruga se parecem com bolas de ping-pong e nós queríamos saber para onde eles iam. Colocamos essas duas ideias juntas e fizemos o InvestEGGator”, resumiu.
Os primeiros resultados mostram que a maioria dos ovos roubados não deixam a região próxima dos ninhos, o que ajuda no foco das ações de conservação. Segundo Helen, o objetivo do projeto não é identificar as pessoas que saquearam os ninhos, mas quem participa do tráfico e lucra com a venda dos ovos.
“Como o tráfico é um crime mais sério, esse ponto é mais interessante da perspectiva criminal do que capturar alguém que saqueie um ninho”, afirmou Helen, destacando ainda a importância de se identificar os consumidores. “Agora nós podemos focar nossos esforços de conscientização e direcionar as ações da polícia. E também podemos saber onde estão os consumidores, que nos ajuda nas campanhas de redução da demanda”, finalizou.