Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 16 de março de 2022
O presidente Jair Bolsonaro disse nessa quarta-feira (16) que o governo federal pretende alterar o status de “pandemia” da covid para “endemia” até o final de março. Ele sinalizou que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, está em busca de apoio de representantes de outros poderes para “flexibilizar o estado de emergência sanitária”.
Endemia é o status de doenças recorrentes, típicas, que se manifestam com frequência em uma determinada região, mas para a qual a população e os serviços de saúde já estão preparados.
“A tendência é do Queiroga, que é autoridade nesta questão, e tem conversado na Câmara de Deputados, parlamentares, também o Supremo, que é o órgão federal. A ideia é que até o dia 31, é a ideia dele, passar de pandemia para endemia e vocês vão ficar livres da máscara em definitivo”, disse Bolsonaro.
Em seu perfil no Twitter, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), confirmou ter recebido Queiroga e disse que manifestou “preocupação com a nova onda do vírus”, mas que iria conversar com os líderes do Senado sobre a intenção do ministro.
Segundo a lei Lei 13.979/2020, que trata de medidas de enfrentamento da pandemia, um “ato do Ministro de Estado da Saúde disporá sobre a duração da situação de emergência de saúde pública” sobre o qual trata a legislação.
Especialistas avaliam que a mudança de pandemia para endemia é uma decisão complexa, e para a maioria, a decisão seria precipitada se ocorresse no atual cenário:
— A variante ômicron ainda está em circulação e tem alta taxa de transmissibilidade;
— Ainda se sabe pouco sobre a nova sublinhagem da ômicron, a BA.2, o que gera incerteza sobre um novo pico nos próximos meses;
— Além disso, o enfrentamento da ômicron exige uma alta taxa de vacinação e, mais do que isso, doses de reforço. Apenas o estado de São Paulo tem mais de 50% da população com 3 doses;
— Em comparação com outras endemias já caracterizadas no país, como a dengue, o número de mortes e casos ainda é muito superior, o que não estaria de acordo com o status endêmico;
— Previsões anteriores – das mais otimistas às mais pessimistas – falharam com a covid. Cravar que estamos prontos para virar a página pode ser mais uma expectativa frustrada, avaliam os especialistas.
Cenário atual
Com relação ao número de casos do coronavírus, a média móvel reduziu para abaixo de 50 mil por dia. Em 2022, a média chegou a ultrapassar a marca de 180 mil, maior taxa da história da covid no País.
“Entramos num período de declínio dos casos, mas que significa que provavelmente estamos entrando em um período de calmaria, ou seja, o coronavírus foi contido neste período, mas é arriscado dizer que a pandemia chegou ao fim”, disse Ligia Kerr, vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora da Universidade Federal do Ceará.
Por outro lado, o número de infecções e hospitalizações voltou a subir em países da Europa e Ásia, o que acendeu o sinal vermelho no Brasil. Em outros momentos da pandemia, o vírus voltou a agir com força em outros continentes e, sem seguida, avançou novamente na América Latina.
Em diferentes momentos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) – que decretou o status pandêmico em nível global há mais de dois anos – disse que o cenário é desigual entre os países e que a pandemia está longe de acabar.
“Cada país está enfrentando uma situação diferente com desafios diferentes, mas a pandemia não acabou”, disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Escape da vacina
Em outro ponto da análise dos especialistas está o fato de estamos em uma nova fase da vacinação no Brasil: mais de 73% receberam as duas doses, uma conquista convertida em uma proporção de óbitos menor do que a vista em 2021.
No entanto, a ômicron tem um escape maior em relação às vacinas disponíveis, principalmente após alguns meses de aplicação da segunda dose. A taxa de vacinação de reforço está muito aquém do necessário para barrar o avanço de novos casos.