Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Colunistas Pandemia

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Nem nos piores pesadelos dava para imaginar um evento de proporções tão alarmantes. Nos maus sonhos estamos perdidos, não sabemos o caminho de volta ou não há como voltar. Mas os desvios errantes da mente profunda só duram até acordar. Em algum momento despertamos, respiramos fundo e aliviados – um mau sonho apenas. Na madrugada quieta, na insônia que se segue, podemos refletir serenamente sobre a natureza da vida e os mistérios da existência.

Bem, aqui estamos. O pesadelo é real, estamos presos à nossa circunstância singular. Em certas horas do dia que rola devagar, no plano pessoal me assalta um sentimento que nunca experimentei: olho ao redor, no espaço próximo do jardim e da flor, ou no horizonte largo da colina próxima e da paisagem conhecida, tudo parece desfocado no espaço e no tempo. É como se tudo pudesse desprender do chão e flutuar.

Esse distanciamento, o claro-escuro de linhas difusas, embaçadas, parece um tempo necessário para um ajuste dos sentidos: há diante de nós uma nova realidade, com a qual nunca convivemos. Um inimigo insidioso, invisível, se espalha em todos os cantos da terra, nos tira, mais do que o sono, a liberdade de ir e vir, e invade nossos domínios com imagens reais e projeções aterradoras.

Não há mais futuro, ao menos como o imaginamos. Não sabemos nada do amanhã breve, nem do remoto, medido em semanas, meses, anos até. Não sabemos quando vamos sair de casa, estender a mão de boas-vindas, beber um bom vinho com amigos queridos, abraçar com a alma leve a mãe, a filha, a neta.

É uma pena de reclusão por prazo indeterminado. Se não sabemos nem quando vamos andar pela rua como um cidadão livre, olhando distraído a vitrine, observando os transeuntes apressados, como poderemos imaginar o que o futuro nos reserva? Estaremos em quarentena ainda em maio, em junho? Ano que vem?

“Já estive melhor”, diz sempre, nos filmes, o herói todo estropiado, no leito de hospital, quando lhe perguntam como ele está. Já estivemos melhor. De hora para outra nos arrancaram da zona de razoável conforto, e em dias tudo mudou, se tornou cinza e sinistro. Abateram-nos em pleno voo, adernaram nossos corpos frágeis, desprotegidos, agora febris. Nosso ânimo de vida, nossas alegrias ruidosas e sutis, nossos planos docemente acalentados, desbordaram de repente para a insegurança e a incerteza.

Toda explicação é fraca e incentivo soa falso e inútil. Tivemos de recuar da soberba comum, e reconhecer a nossa insignificância e angustiosa impotência. Não há como evitar que a ideia de finitude nos assole e assalte. Como robôs, cumprimos as instruções vigentes, lavando obsessivamente as mãos, exibindo máscaras de proteção, guardando distância de nossos semelhantes – esses seres perigosos que podem ser os portadores do mal.

O que fazer? Decerto que acompanhar os acontecimentos, na velocidade em que eles se sucedem, na perplexidade que nos causam. Mantermo-nos alertas, como diz o professor e sociólogo Remy Fontana, em texto brilhante – reunir o que nos resta de solidariedade, colaboração, empatia e resiliência, para manter acesa a chama da esperança e vencer o mal.

titoguarniere@hotmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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