Segunda-feira, 13 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 25 de março de 2023
Em meio às críticas crescentes ao Banco Central, vale uma leitura mais atenta do comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) para entender porque, na visão do colegiado, não foi possível ainda uma redução da taxa básica de juros, hoje fixada em elevados 13,75% do ano.
O Copom pratica no Brasil, como outros bancos centrais do mundo, o chamado “inflation forecast targeting”. Essa expressão em inglês significa que, basicamente, o BC projeta a inflação nos anos à frente, supondo diferentes trajetórias para a taxa de juros, e verifica se o índice de preços está dentro das metas de inflação.
Se a inflação projetada estiver acima da meta, o Copom sobe mais o juro; se a inflação estiver abaixo da meta, pode cortar o juro. A decisão é um pouco mais complicada que isso, porque o Copom também faz a análise dos riscos de seu cenário e faz um julgamento subjetivo da situação. Mas todo o processo analítico começa com as projeções de inflação.
Uma das projeções feitas pelo Banco Central assume, apenas como hipótese de trabalho, que os juros vão se comportar da forma prevista pelos analistas econômicos na pesquisa Focus de expectativas de mercado.
O que atualmente os economistas do mercado financeiro preveem é que os juros vão cair pela primeira vez em novembro, para 13,25% ao ano, e novamente em dezembro, para 12,75% ao ano.
Fazendo as suas contas, o Banco Central projetou uma inflação de 5,8% para 2023, acima da meta, de 3,25%. Para 2024, encontrou uma inflação de 3,6%, acima da meta, de 3%.
O número mais importante para a decisão do Copom, porém, foi a projeção de inflação do período de 12 meses que se encerra em setembro de 2024. Está longe o suficiente para a inflação se livrar de ruídos de curto prazo que afetam os índices de preços, os chamados choques de oferta, como a volta recente do imposto sobre combustível. E nesse horizonte de tempo a política monetária terá efeito máximo sobre a inflação.
Para esse período de 12 meses até setembro de 2024, o Banco Central projeta uma inflação de 3,8%. Não há meta definida para esse prazo, já que o Brasil usa o sistema de anos-calendário. Mas, em termos práticos, o BC trabalha com um objetivo de 3,06% para o período, que é uma média ponderada das metas de 2023 (3,25%) e de 2024 (3%).
Pelas projeções, fica claro que a inflação prevista está acima da meta. Isso significa que a dose de juros tem que ser maior do que a prevista pelos analistas econômicos. Ou seja, não daria para cortar o juro a partir de novembro. Mas, no fim das contas o BC não sinalizou juros ainda mais altos, pelo menos não de forma clara.
A queda dos preços de commodities foi incorporada nas projeções de inflação, mas não foi suficiente para fazê-la baixar. Uma outra força poderosa – a desancoragem das expectativas de inflação — teve efeito mais forte, na direção contrária. O mercado projeta inflação de 6% em 2023 e de 4,1% em 2024, portanto acima das estimativas do Banco Central. E o viés é de alta.
Os núcleos de inflação, que excluem preços mais voláteis, recuaram bem nos últimos meses, mas o Copom disse no seu comunicado que eles seguem em patamares incompatíveis com o cumprimento das metas de inflação. Ou seja, caíram, mas ainda estão muito altos.
Mas os riscos não afetaram a decisão do Copom? Provavelmente, sim, tanto que o colegiado não fez uma sinalização explícita e que a dose de juro tem que ser mais forte do que a prevista pelo mercado, apesar de a inflação projetada estar acima da meta.
Só na semana que vem, com a divulgação da ata da reunião, saberemos o que está na cabeça dos membros do Copom. Mas, aparentemente, eles estão convencidos de que, diante dos riscos mais pronunciados, devem ir com mais calma na sinalização sobre juros.
Por ora, com a informação disponível, os riscos não seriam graves o suficiente para fazer o Banco Central baixar os juros já. O Copom faz o que chama de balanço de riscos, e eles estão equilibrados.
De um lado, olha os riscos que podem fazer a inflação superar o projetado. Entre eles, está o de a nova regra fiscal ser um fiasco, de as expectativas de inflação continuarem a subir e de o surto inflacionário mundial ser mais persistente.
Diante dessa situação, se fosse agir já, o Copom deveria ter sinalizado abertamente mais juros que o previsto pelo mercado. Não fez isso, aparentemente, porque acha que o ambiente é muito incerto. No ambiente de incerteza, é melhor andar devagar, e não se mover, até que haja uma maior clareza sobe o cenário.