Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2022
O próximo presidente só será conhecido no fim deste mês, mas o perfil do novo Congresso, eleito dia 2, é mais conservador e reformista do que o atual, segundo analistas. Há desafios e oportunidades, na agenda econômica, para ambos os candidatos que disputam o Planalto, que terão de negociar apoios fora de suas bases mais confortáveis: boa parcela dos parlamentares eleitos está nos partidos que não apoiam formalmente nenhum dos dois postulantes.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem a seu favor seu histórico de negociador e indica que, se eleito, fará um governo mais ao centro que no passado, mas encontrará um grupo de bolsonaristas maior e mais organizado. Já Jair Bolsonaro (PL), se vencer, terá maior facilidade de conquistar uma maioria de parlamentares.
E, curiosamente, esse é o seu maior risco: ver congressistas focarem mais em pautas de costumes, deixando a economia relegada a segundo plano. A tentativa da ex-ministra Damares Alves (REP-DF) de tentar presidir o Senado é um desses movimentos que podem fazer as reformas perderem vigor, avaliam especialistas.
Analistas ouvidos pelo GLOBO traçam cenários do que pode ocorrer dependendo de quem vencer. E tudo isso em uma Câmara dos Deputados e um Senado mais experientes:
“O grau de renovação da Câmara dos Deputados foi de apenas 44%, um dos mais baixos da história. É de se esperar, portanto, a manutenção da mesma característica da composição atual. Por outro lado, em relação aos que renovaram, percebe-se um perfil mais conservador, alinhado ao atual presidente. Entendo que o cenário é de manutenção, mas com uma acentuação do conservadorismo”, diz Cristiano Vilela, sócio do escritório Vilela, Miranda e Aguiar Fernandes Advogados.
Nem sempre o posicionamento ideológico garante votações coerentes. A atual legislatura, conservadora e reformista, deu sinais trocados. Assim como aprovou medidas que agradaram ao mercado, como a Reforma da Previdência e a privatização da Eletrobras, deu sinal verde para medidas polêmicas, como a proposta de emenda constitucional (PEC) dos Precatórios — que rompeu o teto de gastos, a trava ao aumento de despesas da União — permitiu benesses em ano eleitoral, como a desoneração de impostos sobre combustíveis e a distribuição de dinheiro a caminhoneiros e taxistas, além de aprovar o piso da enfermagem sem a garantia de verbas para a medida.
Dificuldade para ambos
Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, avalia que tanto Bolsonaro quanto Lula terão que negociar com um terço da Câmara para conseguir maioria: “Até aqui, Lula tem 30% na Câmara e 20% no Senado, enquanto Bolsonaro tem 38% na Câmara e 31% no Senado. Ambos terão dificuldade para governar”.
O que vai substituir o teto de gastos? Lula e Bolsonaro preveem mais despesas, mas não definem âncora fiscal
Rubens Figueiredo, cientista político e diretor do Centro de Pesquisa e Comunicação (Cepac), ressalta que, embora a impressão seja que Bolsonaro terá menos custos para governar, Lula tem grande experiência em negociação:
“Um governo Lula não vai se inviabilizar, embora tenha uma pauta mais estatizante, que deverá favorecer corporações”.
Para Sérgio Vale, da MB Associados, um dos pontos relevantes, no caso de Lula, é quem será seu ministro da Economia. Em sua opinião, o Congresso, que ganhou força na gestão de Bolsonaro, poderá manter esse poder a partir do ano que vem.
Piter Carvalho, da Valor Investimentos, diz que Lula terá de recorrer ao centro e, para isso, contará com a ajuda de seu vice-presidente.
Economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini acredita, que, independentemente de quem vencer a eleição, as duas reformas esperadas, administrativa e tributária, serão superficiais. Outro ponto que deverá entrar em pauta, sem profundidade, será o pacto federativo.