Segunda-feira, 07 de outubro de 2024
Por Redação O Sul | 14 de abril de 2024
“Algumas pessoas não sabem que Matthew faleceu, ainda veem seu aniversário e escrevem parabéns em seu perfil. Não é particularmente agradável.”
O marido de Hayley Smith, Matthew, morreu de câncer, aos 33 anos, há mais de dois anos. E ela ainda luta para saber o que fazer com as contas dele nas redes sociais.
“Tentei transformar a conta de Matthew no Facebook em uma página de memorial, e o que é pedido é que você envie a certidão de óbito”, diz a profissional do setor de caridade que mora no Reino Unido.
“Já fiz isso mais de 20 vezes e simplesmente não funciona – nada acontece. Não tenho energia para entrar em contato com o Facebook e tentar resolver o problema.”
Conta memorial
Com o avanço da tecnologia e bilhões de pessoas em todo o mundo utilizando plataformas de redes sociais, o que acontece com a presença online de alguém após sua morte tornou-se um grande tema.
As contas permanecem vivas e ativas, a menos que um parente informe à plataforma de rede social em questão que a pessoa faleceu.
Algumas plataformas oferecem a opção de encerrar o perfil após a notificação oficial do falecimento por um familiar, enquanto outras oferecem alternativas.
Por exemplo, quando a Meta – a empresa proprietária do Facebook e do Instagram – recebe uma certidão de óbito, a conta da pessoa que faleceu pode ser apagada ou transformada em uma página de “memorial” – o que significa que a conta seria congelada no tempo e convertida em uma página de lembrança do usuário, permitindo que as pessoas postem fotos e recordações.
Uma mensagem in memoriam aparece ao lado do nome do usuário e ninguém poderá fazer login na conta se o usuário original não tiver anteriormente fornecido um “contato de legado” – um membro da família ou um amigo autorizado a gerenciar o conteúdo ou solicitar a desativação do perfil.
No Facebook, as contas transformadas em memorial não são recomendadas a potenciais amigos virtuais como “Pessoas que você talvez conheça”, e os usuários da lista de amigos da pessoa falecida não receberão notificação do aniversário.
O Google, proprietário do YouTube, Gmail e Google Fotos, oferece a opção de alterar as configurações de “conta inativa” para decidir o que acontecerá com as contas e dados uma vez que fiquem inativos por um determinado período de tempo.
O X (antigo Twitter) não oferece a opção de manter o perfil em memória do dono e só é possível desativar a conta em caso de falecimento ou impossibilidade de uso do proprietário.
As plataformas sociais mais novas, como TikTok e Snapchat, no entanto, não possuem caminhos específicos.
Legado digital
Perfis ativos de usuários falecidos podem representar um problema caso dados, fotos ou outros conteúdos caiam nas mãos erradas, alerta Sasa Zivanovic, especialista em crimes cibernéticos e ex-chefe do departamento de crimes de alta tecnologia do Ministério do Interior da Sérvia.
Isso pode acontecer ao serem baixados alguns dados do perfil, mas também assumindo o controle de toda a conta.
James Norris, presidente da Digital Legacy Association do Reino Unido, destaca que é importante que todos pensem no conteúdo que compartilham nas redes sociais e façam uma cópia de segurança sempre que possível.
Ele ressalta que no Facebook, por exemplo, você pode baixar um arquivo completo de suas fotos e vídeos e repassá-lo para seus familiares.
“Assim, se eu fosse diagnosticado com uma doença terminal e tivesse um filho pequeno que não estivesse no Facebook, eu poderia baixar todas as minhas fotos e vídeos, remover as mensagens – porque não gostaria que meu filho visse minhas mensagens privadas –, selecionar minhas fotos favoritas e escrever uma história sobre cada uma delas”, diz ele.
Ele acredita que planejar o que você quer que aconteça com suas contas de rede social após sua morte é crucial e aconselha as pessoas a prepararem um legado digital.
“Em última análise, as redes sociais são um negócio. Essas plataformas não são as guardiãs do seu legado digital”, afirma. “O guardião do seu legado digital é você.”
Mesmo assim, ele acredita que as plataformas de rede social poderiam facilitar o processo para os parentes em luto.
“Ações como aumentar a conscientização sobre o que a plataforma oferece e quais ferramentas estão disponíveis são importantes porque nem todo mundo sabe que elas existem”, diz ele.